segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
Fragmentos da tua Bondade...
Grata,
partes por Tempo incerto
para repartir com o Mundo
os fragmentos da tua Bondade.
Bem hajas!
Ficarás para Sempre no meu coração
e se lançasse um papagaio
quando me lembrasse de ti
o céu seria pequeno.
Eles farão parte de mim no futuro...
Um beijo querido e um abraço em silêncio
mas muito, muito apertado.
Maria José Meireles
Desejo a todos
um Novo Ano 2013 cheio só de «pequenas-grandes» coisas realmente essenciais...
"Há um
tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso
corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo
da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem
de nós mesmos."
(Fernando Teixeira de Andrade - 1946-2008)
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
"Há certas horas, em que não precisamos de um amor, não precisamos da paixão desmedida, não queremos beijo na boca e nem corpos a se encontrar na maciez de uma cama. Há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado, sem nada dizer..."
William Shakespeare
William Shakespeare
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Acordar em paz...
Nesse lugar
onde nada é impossível
e o amor é verdadeiro
onde se acorda em paz
e eu quero morar
instalei-me
para sempre.
Maria José Meireles
onde nada é impossível
e o amor é verdadeiro
onde se acorda em paz
e eu quero morar
instalei-me
para sempre.
Maria José Meireles
domingo, 23 de dezembro de 2012
Alternâncias...
sábado, 22 de dezembro de 2012
Céu enfim azul...
Estou das tuas mãos
porque foram as únicas
capazes de me lerem
no sentido das nuvens
ou do céu enfim azul
e não me quero noutras
por enquanto.
Maria José Meireles
porque foram as únicas
capazes de me lerem
no sentido das nuvens
ou do céu enfim azul
e não me quero noutras
por enquanto.
Maria José Meireles
Improviso intimista...
Escreveste
corro para os teus braços e confesso
quando te dei a minha alma
não foi por não saber que ela era grande
foi antes por saber
que nunca ninguém a desejara
e continuaste
ao contrário do meu corpo
que todos os homens cobiçam
a minha alma reclama a tua assinatura
e só por isso te pertence
e eu respondi
assino por baixo.
Ademar
corro para os teus braços e confesso
quando te dei a minha alma
não foi por não saber que ela era grande
foi antes por saber
que nunca ninguém a desejara
e continuaste
ao contrário do meu corpo
que todos os homens cobiçam
a minha alma reclama a tua assinatura
e só por isso te pertence
e eu respondi
assino por baixo.
Ademar
Perguntas...
Perguntas
o que é o Amor
sem Corpo?
Pergunto
o que é o Amor
sem Alma?
Maria José Meireles
o que é o Amor
sem Corpo?
Pergunto
o que é o Amor
sem Alma?
Maria José Meireles
Improviso (mais um) para pedra tumular...
Se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
voltaria por exemplo a escrever sonetos
quase perfeitos
para a Deolinda
que virginava entre as capelas da Sé
e para a Sameiro
de quem guardo ainda uma fotografia
naturalista
a preto e branco
e para a Conceição
que me acompanhava sempre em silêncio
ou em latim
se calhar já morreram
ou continuam ainda a ler-me em segredo
já sexagenárias
se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
e regressaria sempre
à lenta memória das teclas
e dos dedos
que tocaram todas as palavras.
Ademar
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
voltaria por exemplo a escrever sonetos
quase perfeitos
para a Deolinda
que virginava entre as capelas da Sé
e para a Sameiro
de quem guardo ainda uma fotografia
naturalista
a preto e branco
e para a Conceição
que me acompanhava sempre em silêncio
ou em latim
se calhar já morreram
ou continuam ainda a ler-me em segredo
já sexagenárias
se renascesse
repetiria tudo outra vez
e acompanhar-me-ia ao piano
sem partitura
que já me saberia de ouvido
ou de cor
e regressaria sempre
à lenta memória das teclas
e dos dedos
que tocaram todas as palavras.
Ademar
Se eu pudesse deixar algum presente, deixaria aceso o sentimento do amor na vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora.
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria, se pudesse, o respeito por aquilo que é indispensável: além do pão, o trabalho; além do trabalho, a ação.
E quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída.
Mahatma Gandhi
Mahatma Gandhi
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Praça Maior...
Contigo
quero
aprender
a amar
a estação de todos os medos.
(Sting, You only cross my mind in Winter)
Maria José Meireles
Etiquetas:
Poemas para quem gosta,
Sting
Improviso masculino e muito democrático para maiores de trinta e seis anos...
que tão cabrestamente representas
farfalha-me
se tiveres ainda tesão para tanto
furta-me tudo
menos os testículos
preciso deles
para te foder.
Ademar
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Pai Natal...
Quando o Pai Natal morreu
algumas crianças souberam...
É dessas crianças o futuro
e apenas elas poderão dizer
que o Pai Natal nasceu
pouco antes do Menino Jesus
que morreu
no tempo das cerejas
(em segredo e em silêncio)
que também veio ao mundo
para o salvar
(como tantos outros)
que tinha cabelo
e barbas brancas
e que ainda vive discretamente
no coração de todos
os que sofrem de utopia.
Maria José Meireles
algumas crianças souberam...
É dessas crianças o futuro
e apenas elas poderão dizer
que o Pai Natal nasceu
pouco antes do Menino Jesus
que morreu
no tempo das cerejas
(em segredo e em silêncio)
que também veio ao mundo
para o salvar
(como tantos outros)
que tinha cabelo
e barbas brancas
e que ainda vive discretamente
no coração de todos
os que sofrem de utopia.
Maria José Meireles
Festa de Natal...
Antes da dança,
veio abraçar-me
(para não perder o equilíbrio).
Depois,
dançou lindamente.
Maria José Meireles
veio abraçar-me
(para não perder o equilíbrio).
Depois,
dançou lindamente.
Maria José Meireles
sábado, 15 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
BONDADE
Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor de sua pele,
ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta.
Nelson Mandela
pela cor de sua pele,
ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta.
Nelson Mandela
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Temos que APROVEITAR os BONS momentos da VIDA?
Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a bolha de sabão.
Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.
Quem é rico em sonhos não envelhece nunca.
Pode até ser que morra de repente.
Mas morrerá em pleno voo.
O que é muito bonito.
...
A vida é tão boa! Não quero ir embora...
A vida, para ser bela, deve estar cercada de verdade, de bondade, de liberdade.
Essas são as coisas pelas quais vale a pena morrer.
Verdade, Bondade, Liberdade...
A beleza acontece quando a eternidade toca o tempo.
Rubem Alves
Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.
Quem é rico em sonhos não envelhece nunca.
Pode até ser que morra de repente.
Mas morrerá em pleno voo.
O que é muito bonito.
...
A vida é tão boa! Não quero ir embora...
A vida, para ser bela, deve estar cercada de verdade, de bondade, de liberdade.
Essas são as coisas pelas quais vale a pena morrer.
Verdade, Bondade, Liberdade...
A beleza acontece quando a eternidade toca o tempo.
Rubem Alves
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
domingo, 9 de dezembro de 2012
O Pai
Querido pai
A minha lava de chamas és tu
Tu és o meu amigo de ventre em paz
Tu tens o meu amor em paz.
David Meireles
A minha lava de chamas és tu
Tu és o meu amigo de ventre em paz
Tu tens o meu amor em paz.
David Meireles
sábado, 8 de dezembro de 2012
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra
Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa
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António Ramos Rosa,
Vera Barbosa
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
A lista...
1. A lua cheia
2. as estrelas com lua nova
3. o sol poente e o nascente
4. o mar e as suas marés
5. a fonte, o rio e o ribeiro
6. a árvore que mora junto ao regato
7. o vento e a vinha virgem
8. o abraço longo, com muita saudade,
memórias... e um beijo.
Maria José Meireles
2. as estrelas com lua nova
3. o sol poente e o nascente
4. o mar e as suas marés
5. a fonte, o rio e o ribeiro
6. a árvore que mora junto ao regato
7. o vento e a vinha virgem
8. o abraço longo, com muita saudade,
memórias... e um beijo.
Maria José Meireles
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Elo de ligação...
Dizes-me
pleonasmo
e eu digo
somente
um pleonasmo
poderia dizer-me.
Maria José Meireles
pleonasmo
e eu digo
somente
um pleonasmo
poderia dizer-me.
Maria José Meireles
domingo, 2 de dezembro de 2012
Relações bilaterais...
Quando
Portugal abraçou
o Brasil
disse:
quero que saibas
nunca te esquecerei
se não voltar
a ver-te.
Maria José Meireles
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Herança...
Deixo
aos meus filhos
todos os beijos
abraços
palavras
e sorrisos
que lhes der.
Maria José Meireles
aos meus filhos
todos os beijos
abraços
palavras
e sorrisos
que lhes der.
Maria José Meireles
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Improviso para epítome de um poema universal (sobre um tema de Eleni Karaindrou)...
Não guardo na mochila
todas as memórias
com que poderia viajar
há um peso limite
para além do qual
já não me pertenço
quero-me leve
nos teus olhos acolhedores
que o nosso segredo
assim dito
nunca nos pese de mais.
Ademar
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Pensamento do dia...
Pois eu sempre preferi ser pastor :).
Dá mais trabalho mas é bem mais gratificante.
Alexandra Azevedo
Dá mais trabalho mas é bem mais gratificante.
Alexandra Azevedo
sábado, 17 de novembro de 2012
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Vida
Perdoa-me por não querer estar aqui.
No entanto, amo a vida e amo-a porque a vejo e porque a sinto no silêncio do meu ser... num silêncio melodioso, do qual não quero despertar.
Mas, desperto... para o desafinado mundo que não consigo reconhecer porque não se faz ouvir no silêncio do meu ser.
Não... não quero estar aqui...
Quero permanecer no que amo.
Porque só sei viver a vida não a ausência dela.
No entanto, amo a vida e amo-a porque a vejo e porque a sinto no silêncio do meu ser... num silêncio melodioso, do qual não quero despertar.
Mas, desperto... para o desafinado mundo que não consigo reconhecer porque não se faz ouvir no silêncio do meu ser.
Não... não quero estar aqui...
Quero permanecer no que amo.
Porque só sei viver a vida não a ausência dela.
Alexandra Azevedo
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Senhores Diretores do Banco Itaú,
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia etc).. Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante.
Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima. Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer serviço..
Além disso, me impõe taxas. Uma "taxa de acesso ao pãozinho", outra "taxa por guardar pão quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de crédito'"- equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pãozinho", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco.
Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de conta".
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "papagaios". Para liberar o "papagaio", alguns Gerentes inescrupulosos cobravam um "por fora", que era devidamente embolsado.
Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos
gerentes inescrupulosos.
Agora ao invés de um "por fora" temos muitos "por dentro".
- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 "para a manutenção da conta" semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
- Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quentinho".
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu Banco.
Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma!
Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.
Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco.
Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados..
Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, vocês concordam o quanto são abusivas.!?!
Desconheço o autor
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia etc).. Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante.
Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima. Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer serviço..
Além disso, me impõe taxas. Uma "taxa de acesso ao pãozinho", outra "taxa por guardar pão quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de crédito'"- equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pãozinho", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco.
Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de conta".
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "papagaios". Para liberar o "papagaio", alguns Gerentes inescrupulosos cobravam um "por fora", que era devidamente embolsado.
Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos
gerentes inescrupulosos.
Agora ao invés de um "por fora" temos muitos "por dentro".
- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 "para a manutenção da conta" semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
- Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quentinho".
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu Banco.
Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma!
Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.
Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco.
Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados..
Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, vocês concordam o quanto são abusivas.!?!
Desconheço o autor
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Escrava...
Sou da palavra
da tua palavra
que me devolveu:
à vida
a vida
ao sonho
o sonho
à alegria
o sorriso.
Maria José Meireles
da tua palavra
que me devolveu:
à vida
a vida
ao sonho
o sonho
à alegria
o sorriso.
Maria José Meireles
domingo, 11 de novembro de 2012
sábado, 10 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
O menino...
A ausência
a indiferença
e a ignorância
doíam tanto
que o menino
fazia asneiras
todos os dias
e assim a mãe
punha-lhe as mãos.
Maria José Meireles
a indiferença
e a ignorância
doíam tanto
que o menino
fazia asneiras
todos os dias
e assim a mãe
punha-lhe as mãos.
Maria José Meireles
domingo, 4 de novembro de 2012
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, publicado no Público, em 2010-06-21
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de trêsanos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.
Pedro Afonso
Médico psiquiatra
sábado, 3 de novembro de 2012
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Improviso sobre uma canção perfeita...
Tantos destinos
que nunca couberam no índice
dos mapas das nossas vidas
páginas soltas
partituras em branco
mãos trémulas e ausentes
estavas lá
e eu não sabia
era o tempo de não acreditar
em milagres
nem que as vozes chorassem
estavas lá
e nem tu própria sabias
cantavas apenas
para sorrir nas palavras
e ninguém te ouvia
senão
o universo todo.
Ademar
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Pensamento do dia...
Só existem duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. E não estou muito seguro da primeira.
Albert Einstein
Estupidez...
Não poupou
papel nem tinta
nem tempo
poupou sabedoria
que lhe era mais escassa.
Maria José Meireles
papel nem tinta
nem tempo
poupou sabedoria
que lhe era mais escassa.
Maria José Meireles
domingo, 28 de outubro de 2012
Optimista...
Fui optimista
até que a tua morte
me disse
que não há depois
depois
continuei optimista...
Maria José Meireles
até que a tua morte
me disse
que não há depois
depois
continuei optimista...
Maria José Meireles
sábado, 27 de outubro de 2012
Fundo do coração...
Sossegou
quando a mãe lhe disse:
quando morrer viverei
no fundo do teu coração!
Perdeu o sossego
e quis retirar de lá
a mãe que não sabe
como isso se faz...
Maria José Meireles
quando a mãe lhe disse:
quando morrer viverei
no fundo do teu coração!
Perdeu o sossego
e quis retirar de lá
a mãe que não sabe
como isso se faz...
Maria José Meireles
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Palavras cruzadas
Frases de um dia
quantas serão que vêm e vão?
umas perdem-se com razão
outras ficam na minha mão
talvez todas...
sejam mais do que nada,
e formem a estrada.
Ana Paula Costa
quantas serão que vêm e vão?
umas perdem-se com razão
outras ficam na minha mão
talvez todas...
sejam mais do que nada,
e formem a estrada.
Ana Paula Costa
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Caminho...
Não poderei viver
sem a beleza
com que me brindes
todos os dias.
De resto
estou habituada
a ter o corpo na Europa
e a alma em África
ou na América do Sul.
O cão leva o recado
pelo mesmo caminho
por onde vem a moça
que lê o recado.
Maria José Meireles
sem a beleza
com que me brindes
todos os dias.
De resto
estou habituada
a ter o corpo na Europa
e a alma em África
ou na América do Sul.
O cão leva o recado
pelo mesmo caminho
por onde vem a moça
que lê o recado.
Maria José Meireles
sábado, 20 de outubro de 2012
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
É digna de nota a
capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e
desenvolver em nós o gosto de querer bem e o gosto da alegria sem a qual a
prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada
vocação, que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério
nele permanece, apesar da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas
cumpre, como pode, seu dever. Amorosamente, acrescento.
Paulo Freire
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Simplesmente Maria...
É rica
na maior pobreza
é rica
na maior miséria
é rica
mas não em sonhos
disse que acabaria
com a própria vida
na mesma hora
em que ele morresse.
Maria José Meireles
na maior pobreza
é rica
na maior miséria
é rica
mas não em sonhos
disse que acabaria
com a própria vida
na mesma hora
em que ele morresse.
Maria José Meireles
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
domingo, 7 de outubro de 2012
Vindima...
Se agora
acerto à primeira
foi por falhar duas vezes
aceito apenas o vinho
como paga da vindima
e a vida é mesmo bonita
demasiado para estar só.
Maria José Meireles
acerto à primeira
foi por falhar duas vezes
aceito apenas o vinho
como paga da vindima
e a vida é mesmo bonita
demasiado para estar só.
Maria José Meireles
sábado, 6 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Escrevo...
O que neste momento sinto
pois tocaste o mais fundo de mim.
Tocaste a solidão,
a alegria e o coração.
Tocaste um ser humano
que conheces ou talvez não!
E com o silêncio do teu sorriso
tornaste mais leve o meu dia!
Ana Paula Costa
pois tocaste o mais fundo de mim.
Tocaste a solidão,
a alegria e o coração.
Tocaste um ser humano
que conheces ou talvez não!
E com o silêncio do teu sorriso
tornaste mais leve o meu dia!
Ana Paula Costa
Pensamento do dia...
Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
domingo, 30 de setembro de 2012
Escutatória...
Enquanto a ouvia
ouvia-se
quando ela, por fim
lhe pediu uma opinião
e ele disse:
não era eu
quem falava?
Maria José Meireles
ouvia-se
quando ela, por fim
lhe pediu uma opinião
e ele disse:
não era eu
quem falava?
Maria José Meireles
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Apredi com o silêncio
Com o silêncio, aprendi...
Sim, o silêncio tudo pode
na discórdia, é o melhor argumento
na revolta, o maior sentimento
conselheiro da razão
ensinou-me a dizer não...
Para quê gritar?
Tantas palavras se gastam
quando a vida me revolta...
Em silêncio, a harmonia volta.
Sim, em silêncio expresso tudo...
Ana Paula Costa
Sim, o silêncio tudo pode
na discórdia, é o melhor argumento
na revolta, o maior sentimento
conselheiro da razão
ensinou-me a dizer não...
Para quê gritar?
Tantas palavras se gastam
quando a vida me revolta...
Em silêncio, a harmonia volta.
Sim, em silêncio expresso tudo...
Ana Paula Costa
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
domingo, 23 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
O LIVRO RESGATE - A HISTÓRIA DE DEZ CRIANÇAS EX-ESCRAVAS
"... Contextualizando para o Brasil colonial, os escravos eram os prisioneiros das guerras entre tribos africanas. Onde os vencedores vendiam seus prisioneiros para os portugueses, que os utilizavam para fazer a economia do Brasil colonial funcionar. ..." (Bruno Horta)
Pensamento do dia...
No meu vasto mundo interior, há uma retumbante, sangrenta e aniquiladora vitória das forças do Bem.
Maria José Meireles
sábado, 15 de setembro de 2012
Não chores mais o mal que é obra tua
Na fonte há lama e as rosas têm espinhos
Nuvem e eclipse toldam sol e lua
E há no doce botão germes daninhos.
Todo homem erra e o erro ora me assalta
Que com teu erro já vou comparado
E a ele apoio relevando a falta
Mais lhe achando perdão do que pecado.
Trago-te o Senso ao erro sensual
- E eis te defende o teu acusador -
Que contra mim argúi causa legal:
Tanto a guerra civil entre ódio e amor
Existe em mim, que sou irrelevante
Do ladrão que me rouba, um ajudante.
Soneto XXXV / William Shakespeare
Na fonte há lama e as rosas têm espinhos
Nuvem e eclipse toldam sol e lua
E há no doce botão germes daninhos.
Todo homem erra e o erro ora me assalta
Que com teu erro já vou comparado
E a ele apoio relevando a falta
Mais lhe achando perdão do que pecado.
Trago-te o Senso ao erro sensual
- E eis te defende o teu acusador -
Que contra mim argúi causa legal:
Tanto a guerra civil entre ódio e amor
Existe em mim, que sou irrelevante
Do ladrão que me rouba, um ajudante.
Soneto XXXV / William Shakespeare
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Luis Serguilha,
William Shakespeare
Ponte...
Para segurar
a ponte
os pilares
não podem estar juntos.
Somos agora
pilares
de uma ponte
para nenhures.
Maria José Meireles
a ponte
os pilares
não podem estar juntos.
Somos agora
pilares
de uma ponte
para nenhures.
Maria José Meireles
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
Pássaros...
Os pássaros
que bebem na minha piscina
sem pedir licença
não pensam reformar-se
nem têm seguro de saúde.
Será que sabem
que um dia vão morrer?
Maria José Meireles
que bebem na minha piscina
sem pedir licença
não pensam reformar-se
nem têm seguro de saúde.
Será que sabem
que um dia vão morrer?
Maria José Meireles
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"
Rubem Alves
domingo, 9 de setembro de 2012
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
O melhor...
Se uns te dizem
mesmo bom
outros
um infeliz
e outros ainda
te insultam,
eu pergunto:
quantos és afinal?
tu respondes:
que diferença faz?
e eu acrescento:
nenhuma!...
Maria José Meireles
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Não te faço...
Não alinhamos
palavras
gestos
ou vontades
somente o desejo
é fio condutor
e a loucura passa
ao lado
e o paraíso passa
ao largo
e o medo passa
e a vida passa
e eu não te faço
nada.
Maria José Meireles
palavras
gestos
ou vontades
somente o desejo
é fio condutor
e a loucura passa
ao lado
e o paraíso passa
ao largo
e o medo passa
e a vida passa
e eu não te faço
nada.
Maria José Meireles
domingo, 2 de setembro de 2012
sábado, 1 de setembro de 2012
Deixei de ser docente da UAL
Para os meus ex-alunos de 2011-2012 na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)
Deixei de ser professor da UAL. Inesperadamente e pela calada das férias, a direção mandou-me dizer, por carta de entreposta pessoa, que punha fim à minha colaboração. As justificações apresentadas são fantasiosas e vazias, pelo que é seguro que há outras, porventura relacionadas com uma brevíssima crítica que formulei, num “Prós e contras” em que se comparava a qualidade dos setores público e privado. A propósito, referi a falta de uma política de investimento científico e académico do ensino superior privado em geral (nem sequer referi a UAL) e a consequente dependência em que isso o coloca perante o ensino público. Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa. De há muito que legitimamente a tenho e a exprimo. E, nos anos em que trabalhei na UAL (mais de dez), muitos esforços fiz: para trazer à Universidade pessoas que a prestigiassem; para dar ao meu ensino a melhor qualidade possível, para o inovar; para me ocupar pessoalmente (e não por intermédio de assistentes ou de colaboradores) das tarefas de ensino e de avaliação; para promover um contacto direto dom os alunos, por meio de blogues; para o ano que vem, já tinha on line, há mais de um mês, blogs relativos às novas disciplinas, com programas e calendários. De modo a que nunca se pudesse dizer que fazia ali um ensino de segunda, em relação ao que fazia na Universidade pública. Colegas e alunos reconheceram isso e disso me deram testemunhos frequentes.
Enfim, nada disto contou, perante a vontade de quem – por razões que ignoro ou prefiro ignorar – não me queria na UAL. Sei que este desfecho foi promovido apenas por alguns, que conseguiram levar avante a sua decisão. Não envolvo, por isso, nele, nem toda a direção, nem os restantes órgãos da Universidade, nem os meus Colegas de Departamentos, nem os funcionários, nem os estudantes. Creio bem que muitos destes se sentirão muito incómodos por isto acontecer, ainda que – por razões que se compreenderão – se mantenham discretos. Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.
Pode ser que nos encontremos em outros lugares e que possamos retomar diálogos proveitosos e de boa memória.
Abraços amigos.
Deixei de ser professor da UAL. Inesperadamente e pela calada das férias, a direção mandou-me dizer, por carta de entreposta pessoa, que punha fim à minha colaboração. As justificações apresentadas são fantasiosas e vazias, pelo que é seguro que há outras, porventura relacionadas com uma brevíssima crítica que formulei, num “Prós e contras” em que se comparava a qualidade dos setores público e privado. A propósito, referi a falta de uma política de investimento científico e académico do ensino superior privado em geral (nem sequer referi a UAL) e a consequente dependência em que isso o coloca perante o ensino público. Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa. De há muito que legitimamente a tenho e a exprimo. E, nos anos em que trabalhei na UAL (mais de dez), muitos esforços fiz: para trazer à Universidade pessoas que a prestigiassem; para dar ao meu ensino a melhor qualidade possível, para o inovar; para me ocupar pessoalmente (e não por intermédio de assistentes ou de colaboradores) das tarefas de ensino e de avaliação; para promover um contacto direto dom os alunos, por meio de blogues; para o ano que vem, já tinha on line, há mais de um mês, blogs relativos às novas disciplinas, com programas e calendários. De modo a que nunca se pudesse dizer que fazia ali um ensino de segunda, em relação ao que fazia na Universidade pública. Colegas e alunos reconheceram isso e disso me deram testemunhos frequentes.
Enfim, nada disto contou, perante a vontade de quem – por razões que ignoro ou prefiro ignorar – não me queria na UAL. Sei que este desfecho foi promovido apenas por alguns, que conseguiram levar avante a sua decisão. Não envolvo, por isso, nele, nem toda a direção, nem os restantes órgãos da Universidade, nem os meus Colegas de Departamentos, nem os funcionários, nem os estudantes. Creio bem que muitos destes se sentirão muito incómodos por isto acontecer, ainda que – por razões que se compreenderão – se mantenham discretos. Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.
Pode ser que nos encontremos em outros lugares e que possamos retomar diálogos proveitosos e de boa memória.
Abraços amigos.
O texto, da autoria do próprio Professor António Hespanha, foi publicado AQUI
António Manuel Hespanha, in "Prós e Contras"
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Pensamento do dia...
Quem tem uma boa auto-estima, não quer ser evidenciado, quer ser reconhecido.
Maria José Meireles
terça-feira, 28 de agosto de 2012
UM POETA NÃO SE PEGA (Sebastião Alba) - Parte 2
(Um Homem com um sorriso de ouro (oiro) de quem todos, os que passavam pela Rua do Souto, se lembram.)
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
domingo, 26 de agosto de 2012
Intenso...
Ele,
regressou
para rever
aquela que seria
a Mulher de todos
os tempos
e olhou-a como quem vê
o próprio destino.
Ela,
sentiu-se observada
como nunca
foi simplesmente um olhar
destinado à eternidade.
Maria José Meireles
regressou
para rever
aquela que seria
a Mulher de todos
os tempos
e olhou-a como quem vê
o próprio destino.
Ela,
sentiu-se observada
como nunca
foi simplesmente um olhar
destinado à eternidade.
Maria José Meireles
As tuas palavras...
Sim
continuo a ler-te!
Apagaram-se já
quase todas as imagens
e os sons
e os cheiros
mas as tuas palavras
persistem
como se fossem
a própria memória.
Maria José Meireles
sábado, 25 de agosto de 2012
Como um segredo...
Sim
sou uma excelente aluna
(de qualquer matéria)
quando quero aprender
sou também a última página
capaz de encerrar qualquer livro.
Mas não queiras voltar-me.
Guarda-me antes
como um segredo
que alimente a coragem
que faça voar mais alto
e que morra contigo.
Maria José Meireles
sou uma excelente aluna
(de qualquer matéria)
quando quero aprender
sou também a última página
capaz de encerrar qualquer livro.
Mas não queiras voltar-me.
Guarda-me antes
como um segredo
que alimente a coragem
que faça voar mais alto
e que morra contigo.
Maria José Meireles
Pensamento do dia...
Um cínico é um homem que sabe o preço de tudo mas não sabe o valor de nada.
Oscar Wilde
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Pensamento do dia...
Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes.
Mário Quintana
domingo, 19 de agosto de 2012
...
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela que a Cordilheira dos Andes.
Que um osso é mais importante para o cachorro que uma pedra de diamante.
...Que o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que a Usina Nuclear...
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela que a Cordilheira dos Andes.
Que um osso é mais importante para o cachorro que uma pedra de diamante.
...Que o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que a Usina Nuclear...
Manoel de Barros
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Manoel de Barros
Sou o que sou
e os que apontam os meus abusos
medem os seus próprios.
Posso ser reto,
embora sejam eles enviesados;
Por seus pensamentos sórdidos não podem ser denunciados meus atos.
William Shakespeare
e os que apontam os meus abusos
medem os seus próprios.
Posso ser reto,
embora sejam eles enviesados;
Por seus pensamentos sórdidos não podem ser denunciados meus atos.
William Shakespeare
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William Shakespeare
sábado, 18 de agosto de 2012
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Pecado...
Diz-me
em que altares
e a que deuses ajoelhas
diz-me
se rezas então.
Teu arrependimento
dói-me
tu que nem pecaste
não terás perdão.
Maria José Meireles
em que altares
e a que deuses ajoelhas
diz-me
se rezas então.
Teu arrependimento
dói-me
tu que nem pecaste
não terás perdão.
Maria José Meireles
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Altar...
Sento-me à mesa
e convido-te
para jantar.
Serve-te apenas
se for essa a tua vontade.
Sinto-me menos só
quando te deixas existir.
Maria José Meireles
e convido-te
para jantar.
Serve-te apenas
se for essa a tua vontade.
Sinto-me menos só
quando te deixas existir.
Maria José Meireles
Não tenhas nada na mãos
Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.
Ricardo Reis
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
sábado, 11 de agosto de 2012
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Digo-te...
Há um abraço
que me prende
à vida
há palavras
que não vou esquecer
há uma saudade
que não sei matar
há uma voz
que me diz:
quem quer saber
de ti?
Maria José Meireles
que me prende
à vida
há palavras
que não vou esquecer
há uma saudade
que não sei matar
há uma voz
que me diz:
quem quer saber
de ti?
Maria José Meireles
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Quási
Glória Lopes
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse àquem...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dôr! - quási vivido...
Quási o amor, quási o triunfo e a chama,
Quási o princípio e o fim - quási a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dôr de ser-quási, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos d'alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sôbre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .
Um pouco mais de sol - e fôra brasa,
Um pouco mais de azul - e fôra além.
Para atingir, faltou-me um golpe de aza...
Se ao menos eu permanecesse àquem...
Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Improviso em forma de decreto para afixar nos locais de culto...
Ser livre dá muito trabalho
nada melhor do que viver espreguiçado
no meio do rebanho
e dizer sempre o que se espera
da obediência.
Ademar
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Ademar Santos,
Andréia Pedroso
domingo, 5 de agosto de 2012
O mesmo tempo Música de Celso Garcia, Poema de Luís Vaz de Camões
O tempo acaba o ano, o mês e a hora
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
Luís de Camões
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Andréia Pedroso,
Luís de Camões
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
terça-feira, 31 de julho de 2012
Primaveras...
Agradeço
o fruto
e o sabor
e o saber
da semente
que fui.
Maria José Meireles
o fruto
e o sabor
e o saber
da semente
que fui.
Maria José Meireles
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Mafalda Veiga,
Poemas para quem gosta
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Pedacinhos...
Hoje
quero queixar-me
não sei porquê
quero rasgar-te
em pedacinhos
tão pequenos
impossíveis de reconstruir amanhã
quero-me renascida.
Maria José Meireles
quero queixar-me
não sei porquê
quero rasgar-te
em pedacinhos
tão pequenos
impossíveis de reconstruir amanhã
quero-me renascida.
Maria José Meireles
Dissertação sobre as declinações verbais…
Hoje apeteceu-me acender
todas as luzes do firmamento
para que a noite não escurecesse
e os teus passos fossem mais seguros
fechá-las-ei quando regressares
às tuas ausências
nada será como dantes
quando escrevias os poemas
com as minhas mãos
e ainda não sabias os nomes das flores
que eu te dava
não sei se ainda te lembras do jogo cruzado
que te ensinei da última vez.
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
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Alexandre de Castro,
Carlos Cardoso
Quando morre um poeta
Quando morre um poeta
Morre um pouco da vida
Morre um pouco de nós.
Morre uma palavra dita
E mil que ficaram por dizer.
Morre um pouco da esperança
Do mundo ser ainda melhor
E de sermos melhores do que somos
E fazermos melhor o que tentamos fazer.
Quanto morre um poeta
Entristeço-me
Pois penso nos poemas
que deixarei de ouvir.
Mas onde morre um poeta,
Ah, lá devem nascer mais dez.
Carlos Cardoso
Morre um pouco da vida
Morre um pouco de nós.
Morre uma palavra dita
E mil que ficaram por dizer.
Morre um pouco da esperança
Do mundo ser ainda melhor
E de sermos melhores do que somos
E fazermos melhor o que tentamos fazer.
Quanto morre um poeta
Entristeço-me
Pois penso nos poemas
que deixarei de ouvir.
Mas onde morre um poeta,
Ah, lá devem nascer mais dez.
Carlos Cardoso
(escrito mesmo de improviso na emoção da notícia da perda de alguém que não conheceu, mas que era um poeta...)
Ausência
Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes
O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”
“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu e disse:
“El-Rei D. João Segundo!”
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”
Fernando Pessoa in Mensagem
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”
“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu e disse:
“El-Rei D. João Segundo!”
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”
Fernando Pessoa in Mensagem
domingo, 29 de julho de 2012
O Homem e o Mar
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!
E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!
E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
sábado, 28 de julho de 2012
Vale dos Homens...
A 29 de agosto
antes do sol nascer
vou à praia
(com merenda)
e, cumprindo a tradição,
celebro a vitória da vida
sobre a morte.
Maria José Meireles
antes do sol nascer
vou à praia
(com merenda)
e, cumprindo a tradição,
celebro a vitória da vida
sobre a morte.
Maria José Meireles
A função do orgasmo
As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural de amar. (REICH, 1990, p. 14).
A estrutura do caráter do homem moderno, que reflete uma cultura patriarcal e autoritária de seis mil anos, é tipificada por um encouraçamento do caráter contra sua própria natureza interior e contra a miséria social que o rodeia. Essa couraça do caráter é a base do isolamento, da indigência, do desejo de autoridade, do medo à responsabilidade, do anseio místico, da miséria sexual e da revolta neuroticamente impotente, assim como de uma condescendência patológica. O homem alienou-se a si mesmo da vida, crescendo hostil a ela. Essa alienação não é de origem biológica, mas sócio-económica. Não se encontra nos estágios da história humana anteriores ao desenvolvimento do patriarcado. (REICH, 1990, p. 14-15).
A estrutura do caráter do homem moderno, que reflete uma cultura patriarcal e autoritária de seis mil anos, é tipificada por um encouraçamento do caráter contra sua própria natureza interior e contra a miséria social que o rodeia. Essa couraça do caráter é a base do isolamento, da indigência, do desejo de autoridade, do medo à responsabilidade, do anseio místico, da miséria sexual e da revolta neuroticamente impotente, assim como de uma condescendência patológica. O homem alienou-se a si mesmo da vida, crescendo hostil a ela. Essa alienação não é de origem biológica, mas sócio-económica. Não se encontra nos estágios da história humana anteriores ao desenvolvimento do patriarcado. (REICH, 1990, p. 14-15).
Wilhelm Reich
Pensamento do dia...
Aquele que vem ao mundo para não perturbar nada não merece nem respeito nem paciência.
René Char
sexta-feira, 20 de julho de 2012
quinta-feira, 19 de julho de 2012
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Havia, em algum lugar, um parque cheio de pinheiros e tílias, e uma velha casa que eu amava. Pouco importava que ela estivesse distante ou próxima, que não pudesse cercar de calor o meu corpo, nem me abrigar; reduzida apenas a um sonho, bastava que ela existisse para que a minha noite fosse cheia de sua presença. Eu não era mais um corpo de homem perdido no areal. Eu me orientava. Era o menino daquela casa, cheio da lembrança de seus perfumes, cheio da fragrância dos seus vestíbulos, cheio das vozes que a haviam animado.
Antoine de Saint-Exupéry
ACASO
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.
Antoine de Saint-Exupéry
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.
Antoine de Saint-Exupéry
terça-feira, 17 de julho de 2012
Pensamento do dia...
O futebol é uma profissão capaz de promover pessoas sem classe em todo o mundo.
Maria José Meireles
Maria José Meireles
segunda-feira, 16 de julho de 2012
domingo, 15 de julho de 2012
sábado, 14 de julho de 2012
Frémito do Meu Corpo a Procurar-te
Glória Lopes
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
sexta-feira, 13 de julho de 2012
quinta-feira, 12 de julho de 2012
PARECER DE RUBEM ALVES SOBRE PAULO FREIRE
Paulo Freire: Cumprindo burocracias a reitoria da Unicamp encarregou-me de elaborar um parecer sobre Paulo Freire que, de alguma forma, avalizasse a sua contratação como docente da universidade. Exigência ridícula e absurda, dada a projeção e o prestígio do ilustre pedagogo. Foi isso que escrevi:
“O objetivo de um parecer, como a própria palavra o sugere, é dizer a alguém que supostamente nada ouviu e que, por isto mesmo, nada sabe, aquilo que parece ser, aos olhos do que fala ou escreve. Quem dá um parecer empresta os seus olhos e o seu discernimento a um outro que não viu e nem pôde meditar sobre a questão em pauta. Isto é necessário porque os problemas são muitos e os nossos olhos são apenas dois...
Há, entretanto, certas questões sobre as quais emitir um parecer é quase uma ofensa. Emitir um parecer sobre Nietzsche ou sobre Beethoven ou sobre Cecília Meireles? Para isto seria necessário que o signatário do documento fosse maior que eles e o seu nome mais conhecido e mais digno de confiança que aqueles sobre quem escreve...
Um parecer sobre Paulo Reglus Neves Freire.
O seu nome é conhecido em universidades através do mundo todo. Não o será aqui, na Unicamp? E será por isto que deverei acrescentar a minha assinatura (nome conhecido, doméstico) como avalista? Seus livros, não sei em quantas línguas estarão publicados. Imagino (e bem pode ser que eu esteja errado) que nenhum outro dos nossos docentes terá publicado tanto, em tantas línguas. As teses que já se escreveram sobre seu pensamento formam bibliografias de muitas páginas. E os artigos escritos sobre o seu pensamento e a sua prática educativa, se publicados, seriam livros.
O seu nome, por si só, sem pareceres domésticos que o avalizem, transita pelas universidades da América do Norte e da Europa. E quem quisesse acrescentar a este nome a sua própria “carta de apresentação” só faria papel ridículo.
Não. Não posso pressupor que este nome não seja conhecido na Unicamp. Isto seria ofender aqueles que compõem seus órgãos decisórios.
Por isso o meu parecer é uma recusa em dar um parecer. E nesta recusa vai, de forma implícita e explícita, o espanto de que eu devesse acrescentar o meu nome ao de Paulo Freire. Como se, sem o meu, ele não se sustentasse.
Mas ele se sustenta sozinho, Paulo Freire atingiu o ponto máximo que um educador pode atingir.
A questão é se desejamos tê-lo connosco. A questão é se ele deseja trabalhar ao nosso lado.
É bom dizer aos amigos:
— Paulo Freire é meu colega. Temos salas no mesmo corredor da Faculdade de Educação da Unicamp...
Era o que me cumpria dizer.”
RUBEM ALVES
“O objetivo de um parecer, como a própria palavra o sugere, é dizer a alguém que supostamente nada ouviu e que, por isto mesmo, nada sabe, aquilo que parece ser, aos olhos do que fala ou escreve. Quem dá um parecer empresta os seus olhos e o seu discernimento a um outro que não viu e nem pôde meditar sobre a questão em pauta. Isto é necessário porque os problemas são muitos e os nossos olhos são apenas dois...
Há, entretanto, certas questões sobre as quais emitir um parecer é quase uma ofensa. Emitir um parecer sobre Nietzsche ou sobre Beethoven ou sobre Cecília Meireles? Para isto seria necessário que o signatário do documento fosse maior que eles e o seu nome mais conhecido e mais digno de confiança que aqueles sobre quem escreve...
Um parecer sobre Paulo Reglus Neves Freire.
O seu nome é conhecido em universidades através do mundo todo. Não o será aqui, na Unicamp? E será por isto que deverei acrescentar a minha assinatura (nome conhecido, doméstico) como avalista? Seus livros, não sei em quantas línguas estarão publicados. Imagino (e bem pode ser que eu esteja errado) que nenhum outro dos nossos docentes terá publicado tanto, em tantas línguas. As teses que já se escreveram sobre seu pensamento formam bibliografias de muitas páginas. E os artigos escritos sobre o seu pensamento e a sua prática educativa, se publicados, seriam livros.
O seu nome, por si só, sem pareceres domésticos que o avalizem, transita pelas universidades da América do Norte e da Europa. E quem quisesse acrescentar a este nome a sua própria “carta de apresentação” só faria papel ridículo.
Não. Não posso pressupor que este nome não seja conhecido na Unicamp. Isto seria ofender aqueles que compõem seus órgãos decisórios.
Por isso o meu parecer é uma recusa em dar um parecer. E nesta recusa vai, de forma implícita e explícita, o espanto de que eu devesse acrescentar o meu nome ao de Paulo Freire. Como se, sem o meu, ele não se sustentasse.
Mas ele se sustenta sozinho, Paulo Freire atingiu o ponto máximo que um educador pode atingir.
A questão é se desejamos tê-lo connosco. A questão é se ele deseja trabalhar ao nosso lado.
É bom dizer aos amigos:
— Paulo Freire é meu colega. Temos salas no mesmo corredor da Faculdade de Educação da Unicamp...
Era o que me cumpria dizer.”
RUBEM ALVES
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Eu não!...
Sei de pessoas
à tua dimensão
eu não!...
Porque teimas em dizer
que gostas de mim
e delas não?
Que sou especial
e elas não?
Que me queres a mim
e a elas não?
Sei de pessoas
à tua dimensão
eu não!...
Maria José Meireles
à tua dimensão
eu não!...
Porque teimas em dizer
que gostas de mim
e delas não?
Que sou especial
e elas não?
Que me queres a mim
e a elas não?
Sei de pessoas
à tua dimensão
eu não!...
Maria José Meireles
quarta-feira, 11 de julho de 2012
terça-feira, 10 de julho de 2012
Pensamento do dia...
A minha mãe deixou-me a melhor de todas as heranças: saber viver.
Susana Batista
Susana Batista
E mais uma vez se confirma a inutilidade dos graus académicos: fui gentilmente apelidado de especialista, mas quem aprendeu fui eu! Vou reter (assim de chofre, sem pedir autorização nem nada) a frase "da mesma forma que respiro e desconheço a composição química do ar...", comprometendo-me a fazê-la acompanhar do nome do autor. Diz muito da forma correcta de fruir arte, em qualquer vertente. Aliás, o 'público em geral' é o verdadeiro alvo de qualquer forma de arte que queira ser maior e duradoira, e a minha apaixonada leitura de Rushdie ou Saramago coloca-me nesse mesmo patamar de fruição não especializada.
Quanto ao 'nosso' amigo Ludwig, o grande filósofo da música, é difícil perscrutá-lo. Às vezes, conjecturo que toda aquela propalada (será factual?) rudeza apenas servia de capa para uma sensibilidade que submerge indisfarçavelmente no belíssimo e comovente Scherzo da 7ª, ou na sonata patética (outro nome dado postmortem)... Se aquilo é rudeza, quero ser um calhau.
Ricardo Reis
Quanto ao 'nosso' amigo Ludwig, o grande filósofo da música, é difícil perscrutá-lo. Às vezes, conjecturo que toda aquela propalada (será factual?) rudeza apenas servia de capa para uma sensibilidade que submerge indisfarçavelmente no belíssimo e comovente Scherzo da 7ª, ou na sonata patética (outro nome dado postmortem)... Se aquilo é rudeza, quero ser um calhau.
Ricardo Reis
Se eu pudesse viver novamente a minha vida...
Quando o li pela primeira vez, fiquei comovido. Era uma mistura de sabedoria e tristeza. Seu título era Instantes e começava assim: “Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros… Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres..” E ia assim, parágrafo após parágrafo, listando coisas que haviam sido feitas e que não deveriam ter sido feitas, e coisas que não haviam sido feitas e que deveriam ter sido feitas. Até o final melancólico: “Mas, já viram, tenho oitenta e cinco anos, e sei que estou morrendo…” O texto era uma advertência aos mais moços: só temos o momento. Não percam o agora.
Estou a ponto de “desfazer” 70 anos, muito embora os distraídos insistam em usar o verbo “fazer”. O fato é que a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festas de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte. O que não entendo é a razão pela qual os participantes, diante das velas apagadas, se ponham a bater palmas e a rir, quando o certo seria que chorassem. Eu prefiro um ritual mais alegre: acender uma vela bem grande, como um bruxedo de invocação dos anos ainda não nascidos cujo número não sei!
Os números redondos, creio que por razões estéticas, são mais poderosos que os números quebrados. Ninguém acharia nada de extraordinário com o número 7.073.565 da sua carteira de identidade. Mas se o número for 5.000.000 isso será razão para as mais fantásticas conjecturas. Assim, ao ensejo do número redondo “70″, pensei em fazer um documento parecido com o Instantes, confessando erros e dando conselhos aos mais jovens. Mas desisti. E isso porque “se eu pudesse viver de novo a minha vida”, eu quereria vivê-la do jeito mesmo como a vivi, com seus desenganos, fracassos e equívocos.
Doidice? Imaginem que eu estivesse infeliz. Eu teria então todas as razões para voltar atrás e tentar consertar os lugares onde errei. Mas eu não estou infeliz. Vivo um crepúsculo bonito, com a suíte n. 1 de Bach, para violoncelo. Se houve sofrimentos no caminho, imagino que, se não os tivesse tido, talvez a suíte n. 1 de Bach não estivesse sendo ouvida. Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri.
Faz muitos anos, nos tempos em que eu era ainda professor da Unicamp, um aluno que eu não conhecia telefonou-me dizendo que precisava falar comigo. Marcamos um encontro na minha casa. Ele chegou, abriu um caderno, e começou a fazer-me perguntas. A primeira pergunta – que abortou todas as outras – foi a seguinte: “Como é que o senhor planejou a sua vida para que chegasse aonde chegou?” Percebi logo. Ele me admirava. Queria ser como eu. Queria que eu lhe contasse o segredo. Que lhe revelasse o caminho. Mas minha resposta pôs a perder as suas expectativas. Foi isso que eu lhe disse: “Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado.” Isso é absolutamente verdadeiro.
As pontes que eu construía para chegar aonde eu queria ruíam uma após a outra. Eu era então obrigado a procurar caminhos não pensados. E aconteceu por vezes que nem mesmo segui, por vontade própria, os caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria.
Por exemplo: meu pai, homem muito rico, foi à falência. Ficou pobre. Teve de mudar de cidade para começar vida nova. Se isso não tivesse acontecido, é provável que hoje eu fosse um rico fazendeiro guiando uma F 1000 e contabilizando cabeças de gado. Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos doze anos de idade, menino do interior de Minas com um sotaque caipira, fui objeto de zombarias e chacotas. Nunca me senti tão sozinho. Nunca fui convidado a ir à casa de um colega e nunca tive coragem para convidar um colega para ir à minha casa. Sofri a dor da solidão e da rejeição.
Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar coisas que doutra forma eu não teria pensado. Lutei muito para ser pianista. Trabalhei duro, horas e horas por dia. Se tivesse dado certo, eu seria hoje um pianista medíocre. Pianista bom não precisa fazer força. É dom de Deus, como é o caso do Nelson Freire. A diferença entre nós é que, enquanto eu tentava colocar dentro de mim um piano que estava fora, o problema do Nelson era colocar para fora um piano que morava dentro dele desde o nascimento. Para mim, o piano nunca passaria de uma prótese. Mas, para o Nelson, o piano é uma expansão do seu corpo. Foi preciso que eu fracassasse como pianista para que o escritor que morava dentro de mim aparecesse.
Assim, comecei a fazer música com palavras, acho que com a mesma facilidade com que o Nelson toca piano. Fui pastor protestante e é provável que, se tudo tivesse acontecido nos conformes, eu hoje fosse um clérigo velho. Mas veio o golpe militar, fui acusado de subversivo pelas zelosas e bondosas autoridades da Igreja… Tive de me mudar para os Estados Unidos com a minha família – o que foi ótimo para todos nós. Fiz meu doutoramento, fiz amigos novos, viajei, conheci lugares, acampei, tive tempo para ler e pensar.
Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei. Nunca me passou pela idéia que eu viria a ser escritor. E, em especial, que escreveria estórias para crianças – e que as crianças as amariam (e me amariam por causa delas…). Tanto assim que não me preparei para o ofício. Sou ruim em gramática, erro a acentuação. E há mesmo uma pessoa que se dedicava a escrever-me longas cartas para corrigir meu português. Parou de escrever. Acho que desistiu. Como é bem sabido, eu, um mau aluno, especialmente quando o professor quer ensinar-me coisas que não quero aprender. Pena que o dito professor, voluntário, nunca tivesse feito comentário algum sobre o que eu escrevia. Concordo mesmo é com o Patativa do Assaré: “É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada…”
Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, tenho muitos amigos e, sobretudo, gosto de brincar.. Que mais posso desejar? Se eu pudesse viver novamente a minha vida, eu a viveria como a vivi porque estou feliz onde estou.
Rubem Alves
Estou a ponto de “desfazer” 70 anos, muito embora os distraídos insistam em usar o verbo “fazer”. O fato é que a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festas de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte. O que não entendo é a razão pela qual os participantes, diante das velas apagadas, se ponham a bater palmas e a rir, quando o certo seria que chorassem. Eu prefiro um ritual mais alegre: acender uma vela bem grande, como um bruxedo de invocação dos anos ainda não nascidos cujo número não sei!
Os números redondos, creio que por razões estéticas, são mais poderosos que os números quebrados. Ninguém acharia nada de extraordinário com o número 7.073.565 da sua carteira de identidade. Mas se o número for 5.000.000 isso será razão para as mais fantásticas conjecturas. Assim, ao ensejo do número redondo “70″, pensei em fazer um documento parecido com o Instantes, confessando erros e dando conselhos aos mais jovens. Mas desisti. E isso porque “se eu pudesse viver de novo a minha vida”, eu quereria vivê-la do jeito mesmo como a vivi, com seus desenganos, fracassos e equívocos.
Doidice? Imaginem que eu estivesse infeliz. Eu teria então todas as razões para voltar atrás e tentar consertar os lugares onde errei. Mas eu não estou infeliz. Vivo um crepúsculo bonito, com a suíte n. 1 de Bach, para violoncelo. Se houve sofrimentos no caminho, imagino que, se não os tivesse tido, talvez a suíte n. 1 de Bach não estivesse sendo ouvida. Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri.
Faz muitos anos, nos tempos em que eu era ainda professor da Unicamp, um aluno que eu não conhecia telefonou-me dizendo que precisava falar comigo. Marcamos um encontro na minha casa. Ele chegou, abriu um caderno, e começou a fazer-me perguntas. A primeira pergunta – que abortou todas as outras – foi a seguinte: “Como é que o senhor planejou a sua vida para que chegasse aonde chegou?” Percebi logo. Ele me admirava. Queria ser como eu. Queria que eu lhe contasse o segredo. Que lhe revelasse o caminho. Mas minha resposta pôs a perder as suas expectativas. Foi isso que eu lhe disse: “Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado.” Isso é absolutamente verdadeiro.
As pontes que eu construía para chegar aonde eu queria ruíam uma após a outra. Eu era então obrigado a procurar caminhos não pensados. E aconteceu por vezes que nem mesmo segui, por vontade própria, os caminhos alternativos à minha frente. Escorreguei. A vida me empurrou. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria.
Por exemplo: meu pai, homem muito rico, foi à falência. Ficou pobre. Teve de mudar de cidade para começar vida nova. Se isso não tivesse acontecido, é provável que hoje eu fosse um rico fazendeiro guiando uma F 1000 e contabilizando cabeças de gado. Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos doze anos de idade, menino do interior de Minas com um sotaque caipira, fui objeto de zombarias e chacotas. Nunca me senti tão sozinho. Nunca fui convidado a ir à casa de um colega e nunca tive coragem para convidar um colega para ir à minha casa. Sofri a dor da solidão e da rejeição.
Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar coisas que doutra forma eu não teria pensado. Lutei muito para ser pianista. Trabalhei duro, horas e horas por dia. Se tivesse dado certo, eu seria hoje um pianista medíocre. Pianista bom não precisa fazer força. É dom de Deus, como é o caso do Nelson Freire. A diferença entre nós é que, enquanto eu tentava colocar dentro de mim um piano que estava fora, o problema do Nelson era colocar para fora um piano que morava dentro dele desde o nascimento. Para mim, o piano nunca passaria de uma prótese. Mas, para o Nelson, o piano é uma expansão do seu corpo. Foi preciso que eu fracassasse como pianista para que o escritor que morava dentro de mim aparecesse.
Assim, comecei a fazer música com palavras, acho que com a mesma facilidade com que o Nelson toca piano. Fui pastor protestante e é provável que, se tudo tivesse acontecido nos conformes, eu hoje fosse um clérigo velho. Mas veio o golpe militar, fui acusado de subversivo pelas zelosas e bondosas autoridades da Igreja… Tive de me mudar para os Estados Unidos com a minha família – o que foi ótimo para todos nós. Fiz meu doutoramento, fiz amigos novos, viajei, conheci lugares, acampei, tive tempo para ler e pensar.
Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei. Nunca me passou pela idéia que eu viria a ser escritor. E, em especial, que escreveria estórias para crianças – e que as crianças as amariam (e me amariam por causa delas…). Tanto assim que não me preparei para o ofício. Sou ruim em gramática, erro a acentuação. E há mesmo uma pessoa que se dedicava a escrever-me longas cartas para corrigir meu português. Parou de escrever. Acho que desistiu. Como é bem sabido, eu, um mau aluno, especialmente quando o professor quer ensinar-me coisas que não quero aprender. Pena que o dito professor, voluntário, nunca tivesse feito comentário algum sobre o que eu escrevia. Concordo mesmo é com o Patativa do Assaré: “É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada…”
Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, tenho muitos amigos e, sobretudo, gosto de brincar.. Que mais posso desejar? Se eu pudesse viver novamente a minha vida, eu a viveria como a vivi porque estou feliz onde estou.
Rubem Alves
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