quinta-feira, 30 de junho de 2011

Filhos são do mundo

Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autónomos, libertos, até
de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto
aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais
acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem
escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios
sofrem pelas escolhas que recomendamos.

Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de
como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores
defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter
coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém
pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da
incerteza de estar agindo correctamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo!
Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam
retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é
entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os
filhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não
fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles.
Santo anjo do Senhor…

É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e
aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas ‘crias’, que
mesmo sendo ‘emprestadas’ são a maior parte de nós!!!

José Saramago

Sagrada Família...

Inventei
uma família
o Pai morreu
o Filho é velho
e a Mãe sou eu.

Maria José Meireles

Rubem Alves fala sobre o caqui

Pensamento do dia...

Tem mais presença em mim o que me falta.

Manoel de Barros

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Crianças...

Alheias
ao preço
do bilhete
desfrutam
plenamente
do espectáculo.

Maria José Meireles

Sentidos...

Ainda que seja
cega, surda e muda,
cheiro e toco
a beleza
do teu silêncio.

Maria José Meireles

Improviso sobre Yamore...

Antologia poética (447)

Vagueias o amor em pedaços
repartes-te assim
ouves quando não vês
se perdesses os olhos
verias com as mãos
se as mãos não vissem
talvez cheirassem
e
ainda que mutilada de todos os sentidos
continuarias a pensar-me
o amor tem silêncios
que só tu ouvirás.



Ademar

Frederic Chopin Piano Sonata No. 3 in B Minor


(Especialmente para o Rubem)

terça-feira, 28 de junho de 2011

NINGUÉM MEU AMOR



Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.

SEBASTIÃO ALBA - O Poema

segunda-feira, 27 de junho de 2011

The Velvet Underground-Sunday Morning

(Especialmente para matar saudades)

Aqui ao Luar


(Especialmente para o Filipe)

Itajubá em Foco - Rubem Alves / parte 1

Minha mãe

Minha mãe, minha mãe!
Ai que saudade imensa
do tempo em que ajoelhava,
orando ao pé de ti.

Caia mansa a noite;
e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando
em torno dos seus lares,
suspensos do beiral
da casa onde eu nasci.

Era a hora em que já sobre o feno das eiras
dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
e a lua branca, além, por entre as oliveiras,
como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu.

E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço
vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço
eu balbuciava minha infantil oração,
pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
que mandasse um alívio a cada sofrimento,
que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Guerra Junqueiro

sábado, 25 de junho de 2011

GUERRA DOS SEXOS - a clássica cena do café da manhã (1983)

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Luís Vaz de Camões

Improviso para dizer a cumplicidade...

Se tu espreitares
no mais íntimo
dos meus olhos
ver-te-ás
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
se eu espreitar
no mais íntimo
dos teus olhos
ver-me-ei
e nenhum silêncio
será mais
a cerca do nosso refúgio
à volta da mesa
que nos destinaram
uma única cadeira
chegará para os três
e ainda sobraremos.

Ademar

Cessa o Teu Canto!

Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Com que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.

Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas cantar.
E a melodia
Que não havia.
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Improviso para harpa e umbigo...

Não conheço gajas boas
boas boas boas
só conheço mesmo
as mulheres
que eu conheço
não sei ainda
se é das barbas
ou das mãos
ou da voz
mas todas as mulheres
que eu conheço
se bem que viajassem primeiro
com George Clooney
(opção hormonal)
à falta de melhor
depois
viajariam comigo.

Ademar

Pensamento do dia...

Há mortes que obrigam a nascer, crescer e viver.

Maria José Meireles

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pensamento do dia...

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Casa...

Não forçou a porta
percebeu apenas
que estava aberta
entrou em casa
como se fosse sua
desde sempre
saiu
sem fechar a porta
para poder voltar
como fazem os amantes.

Maria José Meireles

Improviso para Sheherazade...

Já não distingo entre
segredos de estado
(estrado)
e segredos de estada
(estrada)
subjuntivamente
já não sei a que segredos
me convidas
nem a que menstruações
suspendo-te do substantivo
diafaneidade
a transparência com que me acolhes
não tem tempo dentro
apenas a luz inteira.

Ademar

terça-feira, 21 de junho de 2011

As nossas mãos podem muitas coisas

As nossas mãos podem muitas coisas: - podem oferecer apoio no momento certo; - podem estender-se para consolar; - podem segurar firme para amparar. O que mais podem as nossas mãos? As mãos podem saudar e sinalizar. As mãos podem envolver e dar carinho. As mãos podem estabelecer limites, escrever e abençoar... As nossas mãos podem agasalhar e curar feridas... Para o mudo a mão é o verbo. Para o idoso é a segurança. Para uma pessoa irada a mão erguida é ameaça. Para o pedinte a mão estendida é suplica. Para quem ama, a mão silenciosa, que acolhe a do ser amado, é felicidade. Para quem chora, a mão alheia é conforto. Existem mãos que agarram, perturbadas. Mas existem também mãos que tocam, suaves. Existem mãos que ferem. Mas existem mãos que acariciam. Existem mãos que amaldiçoam. Porém, felizmente existem mãos que abençoam. Existem mãos que destroem. Mas existem também mãos que edificam, trabalham e realizam. Recebemos as nossas mãos para serem ferramentas abençoadas, para que sirvam na construção de um mundo melhor para todos. Usemos as nossas mãos, sempre, para edificar, elevar, apoiar e trabalhar, na esperança por dias melhores para o nosso mundo.

César Ramos

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro

domingo, 19 de junho de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

Colo...

Como chovia
despiram apenas a alma.
Ela pousou a cabeça
no colo dele
e disse:
deixa-me ser pequenina.
Ele respondeu:
deixo se queres
até posso levar-te
no colo.

Maria José Meireles

Sara Tavares Ponto de Luz HQ



(Obrigada Mary)

sábado, 11 de junho de 2011

Pensamento do dia...

Porque me faltas?

Maria José Meireles
Dir-te-ei todos os dias que me fazes falta
mas conseguirei algum dia significar-te
a falta que me fazes?

Ademar Santos

publicado em "Descansando do Futuro (Reserva de Intimidade)", Asa, 2003

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pensamento do dia...

Tinha a mais bonita de todas as crenças, acreditava sinceramente em si.

Maria José Meireles

Pensamento do dia...

Todos os dias saio à minha procura e às vezes encontro-me.

Maria José Meireles

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pensamento do dia...

Quanto tempo será necessário para te dar a volta?

Maria José Meireles

domingo, 5 de junho de 2011

AMOR FEINHO

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Adélia Prado

sábado, 4 de junho de 2011

Pensamento do dia...

Quanto tempo será necessário para me dares a volta?

Maria José Meireles

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Jô Soares entrevista Rubem Alves 01/06/2011 (Parte 1 de 2)

Dia Mundial da Criança...

Olhava o sol na minha varanda, escutava a música da banda, as notas musicais a soar ao vento.
Então apareceu-me uma criança, olhei-a com esperança, olhei seus olhos azuis cor do céu.
Sua lágrima transparente como a água que vai no rio.
Seu sorriso, lábios doces e inocentes, a beleza de uma criança.
Olhei suas mãos, nelas vi o mundo inteiro: guerras e homicídios, violação e violência, a paz a ser queimada tudo isso eu vi reflectido no seu coração.
Este poema eu dedico a todos os anjos da terra com suas asas de penas brancas como pétalas de rosa.
Esses anjos são...as Crianças.

Pedro Abreu