segunda-feira, 20 de junho de 2011

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro

1 comentário:

  1. Os excepcionais não passam testemunho, mas eu não sou excepcional sou só a Belinha.
    Tenho um amigo de quem gosto mesmo muito.
    Durante vários anos da sua vida ia partindo, ora para África ora para a América, ora para Espanha.
    Perdi a conta às despedidas sempre tristes em que me dizia: “estamos juntos”.
    Como são bem visíveis estes laços que nos unem aos amigos.
    Mas será que não temos nenhum tipo de laços com os outros com quem nos cruzamos debaixo de um temporal ao passar uma passadeira; ou com os vizinhos de praia com quem partilhamos uma tardada de verão.
    Eu guardo na memória o sorriso de algumas crianças de quem não sei o nome. Fica aí também um laço.
    Se a vida for um conjunto de instantes aberto à eternidade, que nos responsabiliza pelo outro que passa, passamos a conviver bem com o Adeus e de facto, mesmo quando não o dizemos, estamos todos juntos.

    Um beijinho
    Belinha

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