sexta-feira, 25 de julho de 2014

Escola da Ponte - 1

Poupo nas razões para me exceder na utopia
Sei que não há olhos para o invisível
Creio apenas em todos os que crêem comigo

Ademar Santos

publicado em "Descansando do Futuro (Reserva de Intimidade)", Asa, 2003

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Jardim...

Não compra
pessoas
nem plantas
e tem
a casa cheia.



Maria José Meireles

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Adoro ler-te... pois!...



Perguntas se vou
à Feira do Livro
esta tarde,
ou a um rio para lá...
ou a uma montanha
com vista para o infinito...
e eu digo:
adoro ler-te... pois!...

Maria José Meireles

domingo, 13 de julho de 2014

Por uma sociedade da educação ou a cada rebanho o cajado que merece!!!!

A convicção que se tem vindo a generalizar (de resto, permanentemente afirmada e reforçada pelos gurus da comunicação) de que os problemas de educação são, em primeira linha, imputáveis às escolas inferiores e aos respectivos professores e que, restaurado um ensino tradicional e autoritário, a qualidade da educação estaria, a prazo, garantida - é, sem dúvida, uma convicção estúpida e socialmente desresponsabilizadora, que ilude as verdadeiras causas do mal estar educativo (e não apenas docente) que hoje percorre as sociedades ditas civilizadas. A qualidade da educação é um desafio que diariamente se coloca a todos e que a todos interpela. Esperar que sejam sempre os outros a responder por falhanços que comprometem a sociedade no seu todo e cada um de nós é a via mais expedita para manter tudo como está.

Daí que não adiante apontar o dedo responsabilizador a quem quer que seja. Impõe-se antes que o dirijamos à nossa própria consciência. Mudar a educação depende de todos e de cada um de nós e não apenas do governo, das escolas ou dos professores.

No interior da família e no interior da sociedade, somos todos educadores e somos todos responsáveis pelo falhanço educativo que nos oprime. Não atiremos pedras, pois, ao telhado dos vizinhos, mas procuremos, em primeiro lugar, arrumar a nossa própria casa. A qualidade da educação começa na família - e todos nós temos aí uma palavra decisiva a dizer, um exemplo de empenhamento, de exigência e de atenção a dar aos mais novos. Não persistamos em imputar genericamente às escolas e aos governos responsabilidades que não lhes cabem. Enquanto as famílias se demitirem das suas obrigações educacionais, enquanto nós todos nos demitirmos, não haverá jamais medidas de política educativa, nem manifestos, nem elites, nem congressos patrocinados pelo Presidente da República, que possam assegurar a qualidade da educação. 
 
Ademar Ferreira dos Santos 

sábado, 12 de julho de 2014

Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 11 de julho de 2014

domingo, 6 de julho de 2014

A FÚRIA DA BELEZA



Estupidamente bela
a beleza dessa maria-sem-vergonha rosa
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda,
a beleza, quando é linda demais,
dá uma imagem feita só de sensações,
de modo que, apesar de não se ter consciência desse todo,
naquele instante não nos falta nada.
É um pá. Um tapa. Um gole.
Um bote nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda
a beleza doeu profundo no peito essa manhã.
Doeu tanto que eu dei de chorar,
por causa e uma flor comum e misteriosa do caminho.
Uma delicada flor ordinária,
brotada da trivialidade do mato,
nascida do varejo da natureza,
me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumo
e me pôs a mesa...
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda,
quase tristeza.

Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal.
É uma dobradura do real, uma dimensão dele,
uma mágica à queima-roupa sem truque nenhum.
Porque é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força
que eu dei de soluçar!
O esplendor do que eu vi era pancada,
era baque e era bonito demais!

Penso, às vezes, que vivo para esse momento
indefinível, sagrado, material, cósmico,
quase molecular.
Posto que é mistério,
descrevê-lo exato perambula ermo
dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz
que nasce o acontecimento poético.

Poesia é quando a iluminação zureta,
bela e furiosa desse espanto
se transforma em palavra!
A florzinha distraída
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo,
como aquele ápice do prazer
que a gente pensa que vai até morrer!
Como aquele máximo indivisível,
que, de tão bom, é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede pára
querendo que e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilo
não se agüenta mais,
sabe como é?

Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!

© ELISA LUCINDA
In A Fúria da Beleza, 2006

Chopin - Complete Nocturnes (Brigitte Engerer)

Raquel - Tardes de 1 a 3 de julho de 2014










David - Tardes de 1 a 3 de julho de 2014







terça-feira, 1 de julho de 2014

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello

SOBRE A MORTE E O MORRER-Rubem Alves.pps.marlislides.Vídeo:frespinho.wmv