quinta-feira, 30 de março de 2017
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
Pensamento do dia...
Só quando perdermos o medo poderemos ser verdadeiramente livres.
David Meireles
David Meireles
quarta-feira, 29 de março de 2017
Intimidade...
Quando estranhaste
dizer-me
e nem sabias
a intimidade
retirei-me em silêncio
antes que fosse tarde de mais.
Maria José Meireles
Pensamento do dia...
Que importa que os senhores falem e continuem a falar? Sempre alto. Muito alto. Demasiado alto. O silêncio é mais forte, mais puro.
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segunda-feira, 27 de março de 2017
Se houvesse degraus na terra...
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Herberto Helder
domingo, 26 de março de 2017
sábado, 25 de março de 2017
sexta-feira, 24 de março de 2017
quarta-feira, 22 de março de 2017
Nova casa...
Moro
numa casa
com arquitectura
engraçada
a perfeita
inexistência
que ninguém quer
habitar.
Maria José Meireles
terça-feira, 21 de março de 2017
segunda-feira, 20 de março de 2017
domingo, 19 de março de 2017
Se me aproximar - Tiago Bettencourt e Márcia
Se me aproximar
Se me aproximar devagar será que vais fugir?
ou se vou conseguir mais um tempo ao teu lado?
para te entreter mais um pouco ou te fazer sorrir
para ti ou pelo sonho vamos juntos viajar.
Medo é desculpa em leve chuva
e querer morrer de amor não é historia de outro tempo.
Mas se formos novos de novo
Mas se formos juntos
vamos poder respirar
Se me desculpar entretanto
será que vais passar?
se fingir não querer
pode ser que não te entregue esta leve dor em tom de chuva
por não querer fugir
por ti ou pelo sonho não consigo desprender
medo é fraqueza como nuvem
e querer morrer de amor nunca é historia de outro tempo
mas se formos novos de novo
mas se formos juntos
vamos poder respirar.
sábado, 18 de março de 2017
segunda-feira, 13 de março de 2017
Cala os olhos, vagabundo.
Não me digas
que há estradas no mundo
sem urtigas.
Não me contes
que nascem astros nos vales
para além dos horizontes.
Não me fales
de haver poentes
com as cores ardentes
das penas dum galo.
Não me tentes,
vagabundo.
Não quero ver o mundo.
Prefiro imaginá-lo.
que há estradas no mundo
sem urtigas.
Não me contes
que nascem astros nos vales
para além dos horizontes.
Não me fales
de haver poentes
com as cores ardentes
das penas dum galo.
Não me tentes,
vagabundo.
Não quero ver o mundo.
Prefiro imaginá-lo.
José Gomes Ferreira
domingo, 12 de março de 2017
Repórter TVI: "Livro Aberto"
No Repórter TVI deste domingo, olhamos para uma situação que bem podia servir de exemplo para o resto do país. Nos Açores, os manuais escolares são gratuitos para todas as famílias.
A TVI descobriu que o sistema que o Governo quer implementar em Portugal continental, já existe nos Açores há cinco anos.
Trata-se de um sistema que funciona muito bem com a colaboração de toda a comunidade escolar: a escola compra os manuais e empresta-os aos alunos que depois os devolvem em condições de bom uso, no final do ano letivo.
sábado, 11 de março de 2017
quinta-feira, 9 de março de 2017
quarta-feira, 8 de março de 2017
Pensamento do dia...
Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a electricidade e a energia atómica: a vontade.
Albert Einstein
Albert Einstein
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segunda-feira, 6 de março de 2017
O que a vida espera de nós?
Há tempos a vida me desafia obrigando-me olhar de frente para os obstáculos sem opção de fuga. Quando criança eu vivia as questões do lábio leporino de forma latente. Era tratamento atrás de tratamento e tempos difíceis na escola. Não me lamento... Os azedumes não me endureceram. Che Guevara, famoso revolucionário cubano escreveu “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.” Por razões diferentes acho que ele ficaria orgulhoso de mim. Cada um com a sua batalha. Cada um com suas dores. Cada um com sua ternura. A vontade de viver nunca me abandonou. E com o passar do tempo fui descobrindo que quanto mais sensível e terna me tornava, mais próxima me sentia da vida. Até que um dia os tabus gentilmente fizeram parte da minha carne e do meu ser sem doer mais. E as lições que aprendi me trazem profundo orgulho pelas minhas lutas vencidas. E hoje atrevo-me a falar em público. Tudo o que jamais imaginei que um dia fosse fazer. Afinal lábio leporino afeta diretamente a fala. É verdade, mas meu coração não foi afetado. E sigo em frente.
Encontrei mais coisas pelo caminho. Perdi audição e precisei da ajuda da tecnologia para ouvir. Graças a isso posso escolher se quero o acolhimento do silêncio ou se quero o acolhimento dos barulhos da vida. Acabo algumas vezes me sentindo privilegiada por poder escolher. E graças a isso minhas noites de sono são sempre deliciosamente silenciosas! E o fato de poder ouvir é sempre um privilégio! Mas claro, não foi nada fácil. Aceitar as nossas perdas, alheias aos nossos desejos, é muito duro. Hoje, quase 10 anos depois de vencer essa etapa ainda me dói em silêncio ter que escolher entre o banho de cachoeira e ouvir a água batendo nas pedras. Lembro-me da minha mãe, tocada pelo que eu estava passando, tentando imaginar o que seria pior: Perder a visão ou a audição. A audição nos conecta ao mundo, acredito que mais que a própria visão. É ela que nos dá a amplitude da vida que nos cerca 360º. A música, as risadas, as palavras, o barulho do mar... Tudo isso faz florescer nosso mundo interior. E a visão por sua vez é quem nos orienta e dirige. É graças à ela que podemos ver belezas como o por do sol, as telas de Monet e as flores. O que minha mãe não sabia na época, é que esse devaneio seria inútil. Pois eu também perdi a visão. Ano passado meu nervo ótico cansou de batalhar e entregou os pontos. O Glaucoma faz tempo que não dá sossego... E toda minha visão periférica foi embora. Vejo apenas aquilo que está bem na minha frente. O que eu e os médicos chamávamos de “olho bom” parou de enxergar. E o até então “olho ruim” é quem me presenteia com a visão que ainda tenho. Andar num local cheio de gente é missão impossível para mim. Esbarro em todo mundo. E me orientar em lugares desconhecidos é bastante complicado. Preciso juntar todos os pedacinhos que enxergo num quebra cabeças para formar o todo. E isso leva tempo! Mas por mais absurdo que pareça o que mais me dói é me passar por sem educação não cumprimentando aqueles que passam ao meu lado. Eu não os vejo e quando percebo que já os ignorei fico profundamente chateada, mas não há o que fazer. Vocês podem achar que estou louca, ficando mais aborrecida com isso do que com a própria perda de visão em si. A grande questão é que comecei a ver e ouvir de outra forma: com a alma. E ser gentil com as pessoas me faz feliz.
Aprendi que nossos sentidos são o nosso diálogo com o mundo. Os cheiros, cores, sons e texturas são o que nos liga à vida. E ter a visão e a audição levadas a limites extremos despertou em mim uma vontade ainda maior de viver. Pois outro mundo adormecido em mim até então, despertou. Rubem Alves dizia “Quero viver enquanto estiver acesa, em mim, a capacidade de me comover diante da beleza. Essa capacidade de sentir alegria é a essência da vida.” Vocês podem achar graça eu citar meu pai, afinal convivi com ele por trinta e oito anos e deveria ter absorvido em mim muito do que ele ensinou. Eu absorvi. Mas as mudanças que minha vida me propôs enfrentar fizeram-me mudar. E aquilo que li, ouvi e me comovi milhares de vezes ao longo da minha vida parece que são lidas e ouvidas agora pela primeira vez, com uma conotação completamente diferente. A vida vale a pena enquanto eu for capaz de sentir a beleza e me comover com ela. E a beleza existe nas mais variadas formas, que venho descobrindo suavemente com o correr dos dias. Não sei se vou ficar cega ou se terei o pouco de visão que me resta. Só sei que independente do que eu tenha que enfrentar, eu vou descobrindo que minha força e minha vontade de viver estão além dos limites que posso imaginar. E com isso transformo as belezas para tornar o meu mundo belo, da minha forma.
Não bastante ter perdido muita visão ano passado, minha mãe num supetão despediu-se de nós e foi brincar com os anjos e as estrelas. E nós que achávamos que a teríamos conosco por um bom tempo ainda, sentimos o susto e a dor... E a vida se fez urgente. Porque ela se esgota e se esvai. Urgente para amar, urgente para sonhar, urgente para viver, urgente para sentir. E aquilo do lado de fora que me foi tirado povoou o lado de dentro. A sensibilidade transborda junto com os olhos. Fiquei em silêncio. Não havia nada que eu pudesse colocar fora do meu corpo que expressasse minha dor de viver tudo junto e misturado. Qualquer tentativa seria em vão. E a vontade de fazer desse mundo um lugar mais doce para se viver só aumentou.
De novo, Rubem Alves me acode: “O que seria de nós sem o socorro do que não existe?” Todos nós sonhamos e amamos. E como pedras preciosas ocultas, nossos sonhos e amores moram dentro de nós e só nós podemos senti-los na sua forma genuína, ninguém mais... Meus sonhos e amores não são palpáveis e são frutos abstratos do meu viver... Apenas eu os conheço da forma como são, portanto só eu sei que existem. Porém, a despeito de não poder tocá-los, são eles que me enchem de vida. E, se algum dia não puder mais ver a primavera florida do lado de fora, tratarei de alguma forma florescer por dentro.
Eu não sou heroína. E nem quero ser. O que a vida espera de mim me desafiando tanto assim? Não sei... Mas sei que ela muito sorrateira trata de ajeitar as coisas. Há quase três anos atrás deixei minha carreira de arquiteta para cuidar do Instituto Rubem Alves e propagar a obra do meu pai. Não fosse isso estaria literalmente em maus lençóis, afinal de que adianta um arquiteto com baixa visão? Não sei... Mas essa sensibilidade latente que fervilha em mim certamente irá me auxiliar, ainda não sei como, a eternizar o legado tão humano deixado pelo meu pai. E aos poucos ouço o meu silêncio se transformando em melodia...
Esse meu depoimento quer apenas lembrá-los que todos podemos transformar a vida dentro da gente. A força nós vamos encontrando pelo caminho. E sem que saibamos como, vamos consertando o que ficou atrapalhado. Não desistam da vida, por mais amarga que ela possa ser. Esse é um belo mundo que vale a pena ser vivido. Há belezas em todos os cantos, principalmente dentro de nós! Talvez o que a vida espera, é que a gente confie nela...
Raquel Alves
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Mario Quintana
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Mario Quintana
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
domingo, 5 de março de 2017
sábado, 4 de março de 2017
sexta-feira, 3 de março de 2017
Pensamento do dia...
A saudade existe não porque estamos longe, mas porque um dia estivemos juntos...
Desconheço o autor
quinta-feira, 2 de março de 2017
Limite de ti...
Hoje agradeço
por te teres deixado ir
ao limite de ti
continua
hoje quero dizer-te
que não tens limite
não tu...
Maria José Meireles
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Yann Tiersen
Exames...
Enquanto aluno, fiz muitos exames (na escola primária, no liceu e na universidade). Enquanto professor (no secundário), já elaborei provas para exame e já corrigi provas de exame, incluindo, provas de âmbito nacional. E até já tive duas alunas (não vou agora contar a história) que conseguiram, no exame de Direito do 12º ano... 21 valores (quando o máximo era...20). Digo isto apenas para que se entenda que, em matéria de exames, não sou propriamente um... treinador de bancada, um mero opinador. Mas também não tenho a pretensão de ser dono da... verdade. Porque, nestas matérias, a verdade é pessoal e intransmissível, cada um tem a sua.
Não pertenço, de resto, a nenhuma facção ou fracção ideológica. Os exames são, essencialmente, um instrumento político. E sempre foram e serão usados como tal. Se eu quiser facilitar a transição dos alunos... sei que tipo de exames deverei fazer. Como também sei... se, ao invés, quiser seleccionar e excluir. Os exames, em geral, não avaliam o que os alunos sabem e, muito menos, aquilo de que são capazes. Há conhecimentos e capacidades (e competências) que nenhuma prova de exame está em condições de avaliar. E o que fica de fora, muitas vezes, é o mais importante da formação de um ser humano - aquilo, precisamente, que distingue (espero que se perceba a metáfora) uma águia de um papagaio.
Sobre isto, já foram escritas em todo o mundo milhões de páginas. E há argumentos, razoáveis, até "científicos", para sustentar todas as teses, as favoráveis aos exames e as desfavoráveis.
Eu só costumo dizer, quando quero simplificar e atrapalhar a discussão, que se a qualidade da educação e do ensino dependesse dos exames... os problemas seriam fáceis de resolver. Púnhamos os alunos, desde o primeiro ciclo (ou até mesmo do pré-escolar) a fazer exames, exames, exames. Magicamente, em poucos anos, garantiríamos a qualidade das aprendizagens e da educação e o professor Nuno Crato, finalmente, seria feliz (e eu deixaria de ler e ouvir os seus queixumes)...
Sobra, apenas, um problemazinho: os países que mais acreditaram e investiram no poder miraculoso dos exames já perceberam que a solução deve estar noutro lado qualquer. A magia não resultou...
Não pertenço, de resto, a nenhuma facção ou fracção ideológica. Os exames são, essencialmente, um instrumento político. E sempre foram e serão usados como tal. Se eu quiser facilitar a transição dos alunos... sei que tipo de exames deverei fazer. Como também sei... se, ao invés, quiser seleccionar e excluir. Os exames, em geral, não avaliam o que os alunos sabem e, muito menos, aquilo de que são capazes. Há conhecimentos e capacidades (e competências) que nenhuma prova de exame está em condições de avaliar. E o que fica de fora, muitas vezes, é o mais importante da formação de um ser humano - aquilo, precisamente, que distingue (espero que se perceba a metáfora) uma águia de um papagaio.
Sobre isto, já foram escritas em todo o mundo milhões de páginas. E há argumentos, razoáveis, até "científicos", para sustentar todas as teses, as favoráveis aos exames e as desfavoráveis.
Eu só costumo dizer, quando quero simplificar e atrapalhar a discussão, que se a qualidade da educação e do ensino dependesse dos exames... os problemas seriam fáceis de resolver. Púnhamos os alunos, desde o primeiro ciclo (ou até mesmo do pré-escolar) a fazer exames, exames, exames. Magicamente, em poucos anos, garantiríamos a qualidade das aprendizagens e da educação e o professor Nuno Crato, finalmente, seria feliz (e eu deixaria de ler e ouvir os seus queixumes)...
Sobra, apenas, um problemazinho: os países que mais acreditaram e investiram no poder miraculoso dos exames já perceberam que a solução deve estar noutro lado qualquer. A magia não resultou...
Ademar Santos
Retirado de abnoxio
Com mais razão do que, provavelmente, ele próprio julga...
Há muito que digo que a escola que temos, a escola das jaulas, programada por uma cambada de mentecaptos sentados nas secretárias dos ministérios da educação (em geral, gente frustrada da ensinança que nunca conseguiu ou tentou dar uma aula a uma turma de 30 crianças ou adolescentes), é imensamente burra e ineficaz. Os resultados estão à vista e não vale a pena perder muito tempo a contestá-los. Os miúdos vomitam a escola e as sociedades pagam exorbitâncias para manter sistemas de ensino que quase só produzem ignorantes. O ponto está na... solução. Há quem acredite que com mais escola à moda antiga, mais programação e mais chicote... tudo se resolverá. Eu, que sou professor e sou pai, posso garantir que não. É preciso dar a volta à escola, virá-la do avesso, acrescentar-lhe sentido de aprendizagem e utilidade social. E o que diz, nesta entrevista, Roger Schank, não sendo original, nem sufragável por inteiro (pelo menos, na minha opinião), merece muito mais do que um sorriso de escárnio. Infelizmente, já sei o que dirão ou pensarão os... iluminados do costume. Mais chicote, mais chicote... e tudo, miraculosamente, se resolverá. Por que não tentais?...
Retirado de abnoxio
Em silêncio!...
Você se sente deprimido e sem vontade de viver? Veja o que diz o Papa Francisco
Nota: Se não se sentir deprimido e se precisar de mim, desde que não seja dinheiro nem favores, pode procurar-me!...
Louvor do Esquecimento
Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.
O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?
A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.
O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?
A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
quarta-feira, 1 de março de 2017
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