terça-feira, 25 de setembro de 2018

Agora
que conheço
todas as fases
da minha lua
posso oferecer-me
por inteiro.



 Maria José Meireles

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

 Se

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas.

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos.

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres.

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos.

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo.

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo.

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente.

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender.

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado.

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam.

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!


(Tradução de Vitor Vaz da Silva do poema "IF" de Rudyard Kipling)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Girafa...

Cresci
pela força
de caminhar
com os pés
no chão
e a cabeça
na lua.



Maria José Meireles

sábado, 15 de setembro de 2018

Madrigal ao contrário...


Deixa

que caminhe

alegre e intensamente.

Quando estiver cansada

abriga-me

no teu vazio.


Maria José Meireles

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Madrigal ao contrário...

Rui Moura Baía - Santa Bárbara II






Deixa

que caminhe

alegre e intensamente.

Quando estiver cansada

abriga-me

no teu vazio.


Maria José Meireles
Não mereço 
menos 
que um poema 
não quero 
merecer menos
que um poema
não quero
menos
que um poema 
nem mais.


Maria José Meireles



















se ainda que amanhã não encontre em mim forças para sorrir, se a força me faltar e as minhas mãos forem substituídas por outras que não minhas e eu as sentir trémulas

então quero que saibas que os dentes tenho-os cerrados, as unhas cravam-se na pele da palma das mãos, as pernas fraquejam e tentam ceder à gravidade

então quero que saibas, que o sangue ainda corre e o coração, esse ainda bate



LauraAlberto

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Além
de todas
as curvas
continuaram
belos.



Maria José Meireles 

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Auto-Retrato Falado

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

Manoel de Barros 
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.
Da madrugada
ao ocaso
sempre teu
sol.

Maria José Meireles

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Quando
a saudade
do futuro
é insuportável
escrevo-me
e sou (e)terna.

Maria José Meireles