quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Texto de uma leitora, que não quer ser identificada, que tinha um tio-avô que não quis ser juiz...

Olá Miguel, gostei muito de abrir o mail e encontrar esta mensagem.

Tive um tio-avô que era juiz. Por se envolver em questões políticas, foi colocado em Mondim de Basto. Quando lá chegou e compreendeu o tamanho do seu castigo, mandou dar meia volta ao carro de cavalos e tornou-se agricultor. Tinha muitos empregados que trabalhavam em troca de conselhos e era um grande agricultor. Ele dizia que a agricultura é a arte de empobrecer alegremente. Não perseguia a verdade, mas queria saber onde estava Deus.

Eu já persegui a verdade durante muitos anos; hoje penso que a verdade e a mentira são faces de uma mesma moeda. Prefiro a verdade, mas já tenho uma relação mais pacífica com a mentira. Ela vem da condição humana, de sermos seres em busca da perfeição. Não é defeito, é feitio.

O meu tio-avô juiz agricultor, um dia, sorriu-me e fez-me ter fé na bondade do mundo. Quando me dizem com orgulho: "já perdi a ingenuidade", sinto pena porque sei que isso significa: "já perdi a fé na bondade do mundo".

As nossas escolas ensinam muitas coisas boas, mas têm um currículo oculto que contempla a maldade em larga escala e estratégias subtis de branqueamento e lavagens de maus sentimentos, maus valores e más acções. Um dia cheguei à conclusão de que, para se ser um bom professor, não se podia ser muito boa pessoa (antes de conhecer Rubem Alves, claro).

Não se fazem omeletas sem ovos, costuma dizer-se. Não podemos ensinar a maldade e esperar que as pessoas sejam bondosas. Os melhores alunos, os que aprenderam melhor a maldade, chegam ao topo (e vingam-se) - eu diria que é justo.

A educação está nas lonas, mas muitos professores continuam a preocupar-se, apenas, com a... carreira. Antes me chamem "Padeira de Aljubarrota"...

Retirado de abnoxio

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