Sandra
sabia que um amigo é um irmão que se escolhe.
Roberto
não tinha irmãos e lamentava-se…
Ela
vivia numa alta torre sem janelas... pelo menos para a rua…
Ele
era livre, mas estava preso a uma enorme vontade de conhecer o seu próprio
rosto. Sabia que apenas um espelho, um espelho verdadeiro, poderia satisfazer
esse seu íntimo e secreto desejo. Para Roberto cada pessoa servia de espelho
para as outras e percebia muito bem quando uma pessoa lhe estava a mentir.
Depois da primeira desilusão, ele não dava uma segunda oportunidade. Partia em
busca do seu verdadeiro rosto noutro espelho e sonhava, em cada nova pessoa que
conhecia, encontrar esse mesmo espelho.
Presa
na torre, Sandra era livre na sua forma de abarcar o tempo, o espaço e a
humanidade. Tinha, na música e na literatura, janelas e portas por onde entrava
e saía sempre que as paredes a estreitassem. Num dia em que ela cantava uma
música que falava de sorrisos e de feitiços, Roberto passou perto da torre onde
ela vivia. Ao ouvir aquela música, quis saber quem a cantava.
Começaram,
então, uma longa conversa que não poderia terminar nem que um dos dois morresse
porque era tão agradável que, apesar de alguns períodos de silêncio, nenhum se
esquecia do outro. Assim, a conversa retomava sempre que o acaso quisesse...
Entretanto,
com inocência, com malícia e com muita paciência foram estreitando laços que os
tornaram cada vez mais cúmplices.
Com o
tempo e a impossibilidade de ver Sandra, pois a torre não tinha janelas para a
rua, Roberto decidiu usar a imaginação para criar uma imagem do rosto dela.
Quando
terminou a sua obra-prima, olhou-a com espanto ao perceber que era o rosto que
ele sempre procurara em todos os espelhos.
Era
realmente um rosto extraordinário!
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