sábado, 30 de junho de 2012

Tristesse — Chopin

4 comentários:

  1. Contraditoriamente, quando estou mais triste esta obra de Chopin cuida bem de mim! Não me
    alegra, mas descomprime-me.
    É como num incêndio a acção do contra-fogo.
    Depois, fica o rescaldo; e às vezes
    reacende-se! Então, oiço de novo 'Tristesse'
    e Chopin volta a ser gentil.

    ResponderEliminar
  2. E Chopin alguma vez não foi gentil?
    Curiosamente, ele nunca chamou "Tristesse" a isto. Este é tão simplesmente o Estudo op.10 nº3, uma peça de trabalho, destinada a exercitar a produção melódica com os dedos mais difíceis - o anelar e o mindinho - da mão direita. É para se ver como era o homem: até um estudo tem que ter este nível de beleza, delicadeza, erudição.
    Também não compreendo o nome. Esta peça é quente, amena e confrotável. Chopin tem obras muito mais "tristes" do que esta, como o 1º concerto, a 4ª balada ou o 1º noturno. Caprichos de historiadores e musicólogos, enfim...

    ResponderEliminar
  3. As coisas que aprendo quando tenho a sorte de ler opiniões de especialistas.

    Não obstante, da mesma forma que respiro e desconheço a composição química do ar, assim aprecio a música indiferente aos nomes que os autores lhe deram.

    Agora que apenas nos resta a obra deixada, a gentileza é uma metáfora que não entra em linha de conta quanto à franca disponibilidade pessoal, ou não, do compositor.

    Oiço música da mesma forma que leio livros, sempre dispostos a conceder-me momentos de laser; daí, a delicadeza do repetir uma audição, está no meu livre arbítrio e não na amabilidade do autor.

    Para desfazer dúvidas, ao contrário do Beethoven [que aprecio mais], não duvido que Chopin tivesse sido um verdadeiro gentil-homem.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E mais uma vez se confirma a inutilidade dos graus académicos: fui gentilmente apelidado de especialista, mas quem aprendeu fui eu! Vou reter (assim de chofre, sem pedir autorização nem nada) a frase "da mesma forma que respiro e desconheço a composição química do ar...", comprometendo-me a fazê-la acompanhar do nome do autor. Diz muito da forma correcta de fruir arte, em qualquer vertente. Aliás, o 'público em geral' é o verdadeiro alvo de qualquer forma de arte que queira ser maior e duradoira, e a minha apaixonada leitura de Rushdie ou Saramago coloca-me nesse mesmo patamar de fruição não especializada.
      Quanto ao 'nosso' amigo Ludwig, o grande filósofo da música, é difícil perscrutá-lo. Às vezes, conjecturo que toda aquela propalada (será factual?) rudeza apenas servia de capa para uma sensibilidade que submerge indisfarçavelmente no belíssimo e comovente Scherzo da 7ª, ou na sonata petética (outro nome dado post mortem)... Se aquilo é rudeza, quero ser um calhau.

      Eliminar