sexta-feira, 31 de maio de 2019

quarta-feira, 29 de maio de 2019

domingo, 26 de maio de 2019

sábado, 25 de maio de 2019

COMUNHÃO

Tal como o camponês,
que canta a semear a terra,
ou como tu pastor,
que canta a bordar a serra de brancura,
assim eu canto, sem me ouvir cantar,
livre à minha altura.
Semear trigo e apascentar ovelhas,
é oficiar à vida uma missa campal.
Mas como sobra desse ritual,
uma leve e gratuita melodia,
junto o meu canto de homem natural,
ao grande côro dessa poesia.

Miguel Torga

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Serenidade...

Um poema

Não tenhas medo, ouve:
É um poema.
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…

Miguel Torga
In ‘Diário XIII’

quarta-feira, 22 de maio de 2019

quinta-feira, 16 de maio de 2019

A história de uma gota



Era uma vez um reino que tinha um Rei e uma Rainha.
Mas não usavam coroa.
No seu reino tinham uma caixa de ver o mundo, mas só o mundo que os outros queriam que eles vissem.
Um dia viram uma rainha de um país muito distante, frio e com nevoeiro, que assistia muito sentada a uma cerimónia.
E tinha uma grande coroa na cabeça.
A coroa era tão grande e tão pesada que a rainha ficava com a cabeça enfiada nos ombros e sem pescoço.
Então o rei e a rainha pensaram, pensaram e, antes que lhes acontecesse o mesmo, resolveram oferecer a coroa ao santo e à santa da sua predilecção.
Assim, o santo e a santa ficaram a ser os padroeiros da nação.
Claro que isso deu mais trabalho aos santeiros, pois tinham de fazer santos e santas com pescoços mais fortes.
O rei lembrou-se que no tempo dos avós e dos pais, todos eles usavam chapéus e, agora, já ninguém usava.
A que santos terão eles oferecido os chapéus que deixaram de ser usados?
Não se lembrava de ter visto santos de chapéu!
O reino era grande: tinha quatro assoalhadas e outros cómodos.
Também convém dizer que havia outras possessões resultantes das conquistas dos seus antepassados.

Essas terras, para além do Rio Este, eram muito distantes, difíceis de gerir e só se lá chegava numa máquina de devorar o espaço.
Mas o reino propriamente dito era muito rico: tinha muitos papéis, grandes árvores até ao tecto e muitas arcas cheias de coisas muito bonitas.
A essas arcas chamam agora caixas de papelão, CD's, prateleiras, DVD's, gavetões e muitos outros nomes.
Como é costume, o reino tinha, como todos os reinos que se prezam, uma entidade superior.
Em alguns reinos é o Sol ou uma grande árvore frondosa, noutros é um crocodilo ou uma formiguinha atarefada ou até uma cigarra cantadora.
Neste reino, o ente supremo era um dragão, com evidentes vantagens.
No inverno aquecia o reino com as labaredas da sua boca.
No verão arrefecia o reino abanando a cauda.
Vivia lá na sua caverna no meio das montanhas.
No entanto havia um problema.
Em casos mais difíceis o dragão tinha de ser consultado.
Mas não era preciso ir à caverna no meio das montanhas porque o dragão andava à vontade pelo reino e só ia para a caverna quando ia dormir: sentia--se mais aconchegado...
Havia outros reinos com quem o rei e a rainha mantinham boas relações de amizade.
E o rei, deste reino, pensou que podia ir às suas arcas e escolher pérolas para oferecer às outras famílias reais.
E eram muitas pérolas: caras de gente feliz, poentes, gaivotas, lagartixas, flores, pedras, troncos de árvore,…
O rei e a rainha começaram a escolher as melhores pérolas para oferecer.
E eram coisas muito bonitas e bem embrulhadas.
Encheram sacos e meteram-nos debaixo dos mantos reais para saírem do reino.

O problema é que, quando o rei e a rainha iam a sair do reino, carregados de pérolas, apareceu o dragão e perguntou: "Que levais debaixo dos vossos mantos?"
Um bocado preocupados com tanta riqueza que levavam para dar, disseram em coro: "São gotas, senhor dragão, lágrimas da natureza".

O dragão quis ver, abriram os mantos reais, e o que se viu?
Eram mesmo gotas, pingos de chuva, lágrimas da natureza.
E foi por isso que as outras famílias reais receberam de presente gotas, apenas gotas.

Alf. Dez. / 2015
(texto impresso e editado, com a devida autorização do dragão, aos 6 dias do mês de dezembro do ano de 2015)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Felicidade com lágrimas...

Flor-Querida
















Querida.
Como falar-te
Das nossas memórias?

Imagens de flor cinza.

Memórias infinitas
De tempos finitos.

Nossa planta
De flores aladas.

Nossos sonhos
Vogando
Na nossa Vida.

Alf. Mai. / 2019

És minha


Obrigada Vítor...

quinta-feira, 9 de maio de 2019

terça-feira, 7 de maio de 2019

Documentário Propositologia • Por um mundo com mais significado

Vende-se cachorrinhos

Um rapazinho olhou para o letreiro da loja onde estava escrito: ”Vende-se cachorrinhos.”

-Por quanto vai vender os cachorrinhos? - perguntou.

-Entre 30 e 50 euros – respondeu o dono da loja.

-Tenho 2 euros e 37 cêntimos – disse o rapazinho. – Posso vê-los?

O dono da loja sorriu e assobiou, e do canil saíram cinco bolinhas de pelo. Um dos cachorrinhos ia ficando bastante para trás. O menino viu imediatamente o cachorrinho atrasado que coxeava, e disse:

-O que é que tem aquele cãozinho?

O dono da loja explicou que ele não tinha o encaixe da anca e que seria sempre coxo. O rapazinho ficou entusiasmado:

-É esse cãozinho que eu quero comprar.

O dono da loja comentou:

-O cão não está à venda. Se o quiseres, dou-to.

O rapazinho ficou muito aborrecido. Olhou bem nos olhos o dono da loja e disse:

- Não quero que mo dê. Esse cãozinho vale cada cêntimo, tal como os outros, e vou pagar o preço total. Vou dar-lhe 2 euros e 37 agora e 2 euros por mês até o ter pago.

O dono da loja insistiu.

-Não podes querer comprar este cãozinho. Nunca vai conseguir correr e saltar contigo como os outros cães.

A isto, o rapaz respondeu, baixando-se e levantando a perna da calça. Mostrou em seguida a perna esquerda muito torta e defeituosa, presa por um grande aro de metal. Olhou para o dono da loja e respondeu suavemente:

-Eu também não corro lá muito bem, e o cachorrinho vai precisar de alguém que o compreenda!

Dan Clark, Canja de galinha para a alma

The Good, the Bad and the Ugly - The Danish National Symphony Orchestra (Live)

50 barcas

Ao logo dos anos
50 barcas aparelhámos
50 barcas lançámos.

Foram 50 as barcas
Ano após ano
Deitadas ao mar.

Chegaram hoje
As 50 barcas…

Umas vieram de longe…
Outras de mais perto,
Não tiveram tempo
De muito navegar.

Nós à beira-mar
A vê-las chegar.
Nós à beira-rio
A vê-las fundear.

Já deitam âncoras,
Ficam paradas
Nas águas a balouçar.

São tantas as barcas
As barcas ancoradas
Que se podem avistar…

Custa imaginar
Todas as histórias
Que as 50 barcas
Têm para contar.

Cada barca com sua história:
Umas, bem alegres
Algumas de arrepiar.

Todas elas carregadas
De muito viver
De muito sonhar.

Alf. 3 de maio de 2019

actus

segunda-feira, 6 de maio de 2019

domingo, 5 de maio de 2019

Mãe!...

Que palavra tão suave
Quando a boca se abre
Para a pronunciar.
Mãe, é fonte de amor
Que a seus filhos dá valor
Sem nada em troca levar.

É suporte d'harmonia
Vivida no dia a dia
Em equilíbrio, pois.
Mãe, é 'sperança e paz
De todo o bem é capaz
Esta, a mãe que vós sois.

Neste domingo de maio
O primeiro, em ensaio
Por certo não me confundo.
Como que em desafio
As mais lindas flores envio
A todas as mães do mundo.

Carmindo Ramos
Nada te pertence; tudo é de tudo o que passa.

Jordi Villonga

sábado, 4 de maio de 2019

Breve

Breve,
o botão que foste
e o pudor de sê-lo.

Breve,
o laço vermelho
dado no cabelo.

Breve,
a flor que abriu
- e o sol mudou.

Breve,
tanto sonho findo
que a vida pisou.

João José Cochofel.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Helena...


Nada mais
há a dizer
senão
que a tua vida
foi amar
a tua filha.


Maria José Meireles

quinta-feira, 2 de maio de 2019

desFiar nos anos

Nasci em Abril, o mês bipolar, isto porque desde que me lembro de ser eu sempre confundi as estações do ano neste mês, ora era o Sol que me presenteava, ora era a chuva que me presenteava, quando soprava as velas no bolo caseiro. 
Ao longo destes anos que conto, quarenta e três sem qualquer pudor, o primeiro aniversário que me recordo foi o dos meus seis anos. A minha mãe fez questão que eu estreasse roupa, isto numa tentativa de disfarçar os três pontos que tinha na testa, resultado das minhas corridas malucas no estreito corredor de casa. Durante todo esse dia, o meu cabelo continuou a ser penteado vezes e vezes sem conta, para que os totós com laços de cor pérola, tivessem o ar de que tinham sido feitos por uma profissional. 
Nesse ano recebi um relógio, pois já ia para a escola dos grandes depois das férias e um peluche do Topo Gigio, que me acompanhou durante anos e hoje está no quarto do meu filho, desde o dia em que fez seis anos. 
Dos anos que se seguiram tenho poucas lembranças, os dezasseis anos com a festa na garagem interdita aos adultos, onde se deram os primeiros beijos com língua, os vinte e um anos com uma festa onde se juntaram os membros da família mais chegados. 
Mas eu queria lembrar-me dos dezoito anos e não consigo, da mesma forma que não me lembro dos trinta anos. Lembro-me dos quarenta anos, onde fui trabalhar normalmente, não sou mais do que os outros e o resto do dia passei-o em casa. 
Ao longo destes anos, perdi os meus tios, os meus avós, alguns amigos… Os meus pais continuam presentes no meu aniversário, como todos os que se ausentaram, cumprindo a vida. 
Muitas vezes olho os meus pais, vejo-os como quando tinha dez anos, quero que corram, que brinquem, que cheguem a casa tarde depois do trabalho, sem paciência, que me levem a passear aos domingos, que se zanguem comigo, que me protejam sempre que tenho medo, porque agora eu já não posso ter medo. 
Vejo o meu pai a andar de bicicleta aos domingos de manhã, enquanto a minha mãe se ocupa do assado, vejo a minha mãe a sorrir sem medo de doenças, vejo as férias grandes passadas em casa, os passeios de família e os almoços no restaurante de sempre. 
No espelho o reflexo já não é da miúda adolescente de outrora, consigo aceitar as mudanças e aceito o que os anos me foram dando. 
Olho os meus pais e recuso vê-los, quero-os com sangue novo, cheios de força e coragem para levantar a filha nos braços.

LauraAlberto

Pensamento do dia...

Pensamento do dia...