domingo, 4 de outubro de 2020

OIÇO TANTA COISA DE VÓS

OIÇO TANTA COISA DE VÓS
que não oiço mais
do que ouvir,
vejo tanta coisa de vós
que não vejo mais
do que ver,
tanta coisa me assedia
com desconversa
que dou por mim a falar
como quem conversa,
que dou por mim
a falar como quem
fica em silêncio.
Eu vivo, forte.

Paul Celan
in A Morte É Uma Flor. Poemas do Espólio; trad. João Barrento, ed. Cotovia, 1998

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