quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Metade...
Respeito
sem desejo
ou
desejo
sem respeito
são frutos
pela metade.
Antes morrer
à fome.
Maria José Meireles
sem desejo
ou
desejo
sem respeito
são frutos
pela metade.
Antes morrer
à fome.
Maria José Meireles
domingo, 27 de junho de 2010
Morena
Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.
Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que têm!
Vê lá que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!
Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.
Há rosas dobradas
E há-as singelas;
Mas são todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
Só tu, linda flor.
E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!
Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
sábado, 26 de junho de 2010
Fidelidade...
Dizes-me fiel
depositária.
Pergunto:
porque é que os bandos
nem sempre voam
na mesma direcção?
Maria José Meireles
depositária.
Pergunto:
porque é que os bandos
nem sempre voam
na mesma direcção?
Maria José Meireles
Dissertação sobre a minha contabilidade…
Sobram sempre pedaços da memória
quando desembrulho o passado
perdi as pisadas do teu rasto
talvez tivesse posto o pé em falso
agora os caminhos já não são os mesmos
não te digo das pontes nem dos rios
que ambos atravessámos
nem dos abrigos improvisados
tu vinhas e ias sem remorsos
e foi nessa inocência que nos perdemos
um do outro, sem remissão,
falta-nos percorrer outros caminhos
dobrar todas as esquinas
interrogar os desejos de antigas encruzilhadas
para contar o tempo que nos resta
eu sei que ninguém vai entender
quando eu te oferecer uma flor.
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
quando desembrulho o passado
perdi as pisadas do teu rasto
talvez tivesse posto o pé em falso
agora os caminhos já não são os mesmos
não te digo das pontes nem dos rios
que ambos atravessámos
nem dos abrigos improvisados
tu vinhas e ias sem remorsos
e foi nessa inocência que nos perdemos
um do outro, sem remissão,
falta-nos percorrer outros caminhos
dobrar todas as esquinas
interrogar os desejos de antigas encruzilhadas
para contar o tempo que nos resta
eu sei que ninguém vai entender
quando eu te oferecer uma flor.
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Dissertação sobre uma história de amor…
Foi no dia em que queimaste as bonecas
que me cruzei contigo
na rua onde então vivias
guardei o teu olhar no bolso do casaco
e comecei a comer ameixas
para não me esquecer dos teus lábios
da cor do carmim
mais tarde, encontrei o teu nome
num anúncio de um jornal
pedias a devolução do olhar
a quem o tivesse encontrado
levei também uma taça de ameixas
para tu provares.
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
que me cruzei contigo
na rua onde então vivias
guardei o teu olhar no bolso do casaco
e comecei a comer ameixas
para não me esquecer dos teus lábios
da cor do carmim
mais tarde, encontrei o teu nome
num anúncio de um jornal
pedias a devolução do olhar
a quem o tivesse encontrado
levei também uma taça de ameixas
para tu provares.
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
Carpe Diem
Como ameixas
para não ter de pensar
que um dia, a tantos de tal,
irei fertilizar narcisos...
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
para não ter de pensar
que um dia, a tantos de tal,
irei fertilizar narcisos...
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Cabo da Boa Esperança...
quarta-feira, 23 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Certificado...
Ela disse
que já não me vê
(nem a este prédio)
com os mesmos olhos.
Já sou educadora.
Maria José Meireles
que já não me vê
(nem a este prédio)
com os mesmos olhos.
Já sou educadora.
Maria José Meireles
Improviso para distrair o lirismo...
Abro e fecho agora janelas
para que o pensamento respire
e transpire
todas as casas são universos contidos
e em nenhuma sombra doméstica
perscruto a confidência de uma luz
que nos conjugue na distância
o equilíbrio de todas as memórias é tão precário
que até as palavras tropeçam na tela
quando apenas o silêncio as conduz
se amanhã não chover
subirei os estores
e voarei por aí.
Ademar
para que o pensamento respire
e transpire
todas as casas são universos contidos
e em nenhuma sombra doméstica
perscruto a confidência de uma luz
que nos conjugue na distância
o equilíbrio de todas as memórias é tão precário
que até as palavras tropeçam na tela
quando apenas o silêncio as conduz
se amanhã não chover
subirei os estores
e voarei por aí.
Ademar
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Palavra...
Era menina
escrevia poemas
como quem escreve
um diário
não cresceu
nem sabe
que uma palavra
vale mais
que mil imagens.
Maria José Meireles
escrevia poemas
como quem escreve
um diário
não cresceu
nem sabe
que uma palavra
vale mais
que mil imagens.
Maria José Meireles
domingo, 20 de junho de 2010
Adeus, meu poeta!…
Quando eu morrer
quero que me ofereças
um ramo de flores vermelhas,
tantas, quantos os poemas que te dei,
com uma dedicatória
escrita pelo teu punho.
Quero que escrevas
uma frase de despedida,
breve e modesta,
a recordar o meu ofício
de artesão da poesia
- o único tesouro que me resta.
Quero que escrevas:
Adeus, meu poeta!
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
quero que me ofereças
um ramo de flores vermelhas,
tantas, quantos os poemas que te dei,
com uma dedicatória
escrita pelo teu punho.
Quero que escrevas
uma frase de despedida,
breve e modesta,
a recordar o meu ofício
de artesão da poesia
- o único tesouro que me resta.
Quero que escrevas:
Adeus, meu poeta!
Alexandre de Castro
retirado do Alpendre da Lua
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Improviso para amante secreta...
Nenhuma pele tem tantas ondas
como a voz com que sorris
e tão frequentemente adoeces
o teu corpo que já não cabe
no antigo colete de forças
tão grande e tão pequeno ainda
para a loucura em que anoiteces
a menina do gelado que nunca derrete
a mãe do universo inteiro
entre tantas ruas e tantas casas
que só tu mesmo poderias habitar.
Ademar
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Eros e Psique
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
Improviso cigano...
Aposentei-me de almocreve
já não faço feiras
nem vendo salvados a retalho
e se ainda uso o megafone
é apenas
para chamar as estrelas
quando te escondes
agora vivo das esmolas
dos pobres
e empobreço com eles
nenhuma condição é tão perfeita
como não ter nada para vender.
Ademar
já não faço feiras
nem vendo salvados a retalho
e se ainda uso o megafone
é apenas
para chamar as estrelas
quando te escondes
agora vivo das esmolas
dos pobres
e empobreço com eles
nenhuma condição é tão perfeita
como não ter nada para vender.
Ademar
- Vinícius de Moraes -
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Bob Marley
"Posso não ter olhos verdes, mas o vermelho dos meus olhos representa o verde da Natureza."
Outra esmola...
Disse
que registava
a hora
para me encontrar
todas as manhãs.
A casa modelo
está personalizada
(menos fria).
O bar risco
é agora
um camiseiro
da filha.
Viajarei
com a fortuna
escondida
na roupa interior
para que ninguém saiba
que sou rica.
Maria José Meireles
que registava
a hora
para me encontrar
todas as manhãs.
A casa modelo
está personalizada
(menos fria).
O bar risco
é agora
um camiseiro
da filha.
Viajarei
com a fortuna
escondida
na roupa interior
para que ninguém saiba
que sou rica.
Maria José Meireles
terça-feira, 15 de junho de 2010
Esmola...
O pedinte
disse
que eu estava linda
(na brincadeira).
Eu disse:
já ganhei
o dia.
Maria José Meireles
disse
que eu estava linda
(na brincadeira).
Eu disse:
já ganhei
o dia.
Maria José Meireles
POESIA MATEMÁTICA!!!!
Quem 60 ao teu lado e 70 por ti,
vai certamente rezar 1/3
para arranjar 1/2
de te levar para 1/4
e ter a coragem de te dizer:
20 comer!!!
Matematicamente falando.
vai certamente rezar 1/3
para arranjar 1/2
de te levar para 1/4
e ter a coragem de te dizer:
20 comer!!!
Matematicamente falando.
Fátima Remualdo
Disseste "até logo!"
Que ias embora.
E foste!
Mas, sabes?!
Não ficou o vazio.
Não ficou a tristeza.
Ficou a palavra!
Ficaste tu!
Um bom dia!
Que ias embora.
E foste!
Mas, sabes?!
Não ficou o vazio.
Não ficou a tristeza.
Ficou a palavra!
Ficaste tu!
Um bom dia!
Jardim de infância...
Brinca
gosto de te ver
brincar
abre o baú dos brinquedos
leva
o teu favorito
ou leva-os todos
se quiseres
e deixa que eles
simplesmente
te desarrumem.
Maria José Meireles
gosto de te ver
brincar
abre o baú dos brinquedos
leva
o teu favorito
ou leva-os todos
se quiseres
e deixa que eles
simplesmente
te desarrumem.
Maria José Meireles
CANTIGA, PARTINDO-SE (João Roiz de Castelo Branco)
Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
366 poemas que falam de amor (antologia organizada por Vasco Graça Moura)
Meus olhos, por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
366 poemas que falam de amor (antologia organizada por Vasco Graça Moura)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
Improviso mais do que sagrado...
Agora
somos muitos na família
mãe
e ainda há na família
quem sorria
como se ela fosse
dizes
sagrada
talvez o sorriso que nos reúne
seja uma mesa do tamanho do universo
à volta da qual todos nos pudéssemos ainda
sentar e aquecer
como diante de uma lareira adormecida
hoje reavi as tuas mãos de linho
mãe
e voltei a pôr a mesa
para a família
de novo reencontrada
os poetas fingem sempre
que não sabem sorrir
mãe
mas é só por fora das palavras.
Ademar
somos muitos na família
mãe
e ainda há na família
quem sorria
como se ela fosse
dizes
sagrada
talvez o sorriso que nos reúne
seja uma mesa do tamanho do universo
à volta da qual todos nos pudéssemos ainda
sentar e aquecer
como diante de uma lareira adormecida
hoje reavi as tuas mãos de linho
mãe
e voltei a pôr a mesa
para a família
de novo reencontrada
os poetas fingem sempre
que não sabem sorrir
mãe
mas é só por fora das palavras.
Ademar
Improviso entre memórias futuras...
As marcas dos pés
uma a uma
contei no teu rosto
as marcas dos pés
andavas ao contrário
descalça do desejo
e tinhas formigas no pensamento
em vez de telas
ou cortinas
as marcas dos pés
que não usavas nas palavras gastas.
Ademar
uma a uma
contei no teu rosto
as marcas dos pés
andavas ao contrário
descalça do desejo
e tinhas formigas no pensamento
em vez de telas
ou cortinas
as marcas dos pés
que não usavas nas palavras gastas.
Ademar
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Improviso para acrescer melodia ao silêncio...
Poderia semear de adjectivos
o chão que pisas
se tivesse a exacta medida
dos teus pés
e neles ainda reconhecesse
o caminho incerto da consagração
mas já gastei todos os adjectivos
neste nirvana de ouvir apenas
ciclicamente
o rumor dos teus.
Ademar
o chão que pisas
se tivesse a exacta medida
dos teus pés
e neles ainda reconhecesse
o caminho incerto da consagração
mas já gastei todos os adjectivos
neste nirvana de ouvir apenas
ciclicamente
o rumor dos teus.
Ademar
Improviso para dizer a inutilidade da poesia...
Nenhum portal
me conduz ao lugar
a que pertences
nenhum destino ou chamada
no bairro que frequentamos
que parece maior do que o universo
todos os desencontros
têm hora marcada
todas as esquinas se perdem
na intemporalidade da matéria
que nos conjuga.
Ademar
me conduz ao lugar
a que pertences
nenhum destino ou chamada
no bairro que frequentamos
que parece maior do que o universo
todos os desencontros
têm hora marcada
todas as esquinas se perdem
na intemporalidade da matéria
que nos conjuga.
Ademar
Para Rubem Alves...
Fernando Pessoa
"Trabalhemos ao menos, nós os novos, por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos em nós próprios a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa. Escrupulizemos no doentio e no dissolvente. E a nossa missão, a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica."
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Improviso para liricar...
O teu silêncio cheira bem
mais intensamente do que a primavera
destas noites
que já prometem todos os vagares
o teu silêncio tem
muitas reservas dentro
o pudor e o poder
das origens da sedução
e o treino da sabedoria
que não arde entre os ponteiros
de nenhum medidor do tempo
o teu silêncio
é uma voz de longe
e tão próxima
como o mar
que intimamente nos embarca.
Ademar
mais intensamente do que a primavera
destas noites
que já prometem todos os vagares
o teu silêncio tem
muitas reservas dentro
o pudor e o poder
das origens da sedução
e o treino da sabedoria
que não arde entre os ponteiros
de nenhum medidor do tempo
o teu silêncio
é uma voz de longe
e tão próxima
como o mar
que intimamente nos embarca.
Ademar
Fernando Pessoa (1888 - 1935)
Se depois de eu morrer, quiserem
escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha
nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias
são meus.
escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha
nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias
são meus.
Voto...
O Nuno diz
não poder votar
por não ter
posse de voto.
Não sei
se é correto
mas parece-me feliz.
Eu digo
não poder morrer
por não ter
curso de formação.
Não sei
se é correto
mas parece-me feliz.
Maria José Meireles
não poder votar
por não ter
posse de voto.
Não sei
se é correto
mas parece-me feliz.
Eu digo
não poder morrer
por não ter
curso de formação.
Não sei
se é correto
mas parece-me feliz.
Maria José Meireles
quarta-feira, 9 de junho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
Como me acaso agora...
O acaso
é como um rio.
Uns
nadam contra a corrente
outros
deixam-se levar.
Maria José Meireles
é como um rio.
Uns
nadam contra a corrente
outros
deixam-se levar.
Maria José Meireles
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Um dia perfeito...
.
(Clube Dos Poetas Mortos, Dead Poets Society)
Maria José Meireles
(Obrigada Manuel. Fiquei surpreendida...)
domingo, 6 de junho de 2010
Outro dia quase perfeito...
O autocarro
das velhinhas
a Glorinha
Serralves
(com pizza e jazz)
o Diogo
e,
à noite,
o marido
deita os filhos.
Maria José Meireles
das velhinhas
a Glorinha
Serralves
(com pizza e jazz)
o Diogo
e,
à noite,
o marido
deita os filhos.
Maria José Meireles
Máquina fotográfica...
A memória
não está vazia
ainda
mas a bateria
está
completamente
carregada.
Maria José Meireles
não está vazia
ainda
mas a bateria
está
completamente
carregada.
Maria José Meireles
sábado, 5 de junho de 2010
Improviso brechtiano...
Que ninguém diga
da derrota e da vitória
que estavam escritas
a fortaleza dos fortes é sempre
uma condescendência
dos fracos.
Ademar
da derrota e da vitória
que estavam escritas
a fortaleza dos fortes é sempre
uma condescendência
dos fracos.
Ademar
sexta-feira, 4 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
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