terça-feira, 24 de março de 2020

Improviso sobre uma voz...

Uma voz que agora desconheço
lê devagar palavras
que provavelmente terei escrito
não sei há quantos anos
nem em que vida
a voz parece ter a mesma urgência
das palavras
mas nenhuma memória me reconduz
à circunstância dessa íntima leitura
sei apenas que é uma voz de mulher
e diz no fim
como se assinasse um pôr-do-sol ilustrado
“tão lindo”
nunca terei amado essa mulher
que tão intensamente me dizia
continuará a ler-me?

Ademar

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