São olhares
como este, que me deixam a pensar...
Hachi é o nome de um cão, o oitavo do nascimento, número considerado da sorte e da felicidade no Japão. Foi comprado e enviado para a América. Pelo caminho extraviou-se. O cão como era de uma linhagem com mais de 4.000 anos, conseguiu abrir a casota onde vinha e começou a deambular pelas ruas da cidade, até escolher um dono.
À
saída da estação de comboios ia a passar um professor de música do
conservatório da cidade, e o cão não mais o largou. Tentou dissuadi-lo a
procurar outro dono, até que junto do chefe da estação pediu-lhe que tomasse
conta dele. Como ele recusou viu-se na contingência de o levar para casa.
Sabendo
que a esposa tinha no passado recente, por uma enorme tristeza com o
desaparecimento do cão de casa, meteu-o (sem nada lhe dizer), na garagem num
caixote de papelão. Naturalmente o cão como era de uma inteligência acima da
média, a meia da noite já se encontrava no quarto do casal. A esposa quando se
levantou para ir à casa de banho, teve um grande susto ao ver o inocente cão
todo rim pimpão ir na sua direcção. O marido tentou acalma-la, sem contudo a
dissuadir de não aceitar o cão em casa.
Foi
quando a filha visitava os pais, a mãe observando da janela pai e filha
divertidíssimos com o cão, acabou por aceitá-lo. Todos os dias o cão
acompanhava o novo dono até à estação dos comboios e depois deambulava pela
cidade. Toda a gente o conhecia e um minuto antes de o combóio chegar, já o
Hachi estava filado à porta da estação dos comboios, à espera do dono.
Um
dia o Hachi entregou uma bola de ténis com que brincava ao dono. Ele ficou
admirado, porque normalmente o cão nunca se interessava em a entregar. Nesse
dia o Hachi teimou várias vezes com o dono para atirar com a bola e ele
trazia-a, o que o deixou admirado. Quando se encontrava a trabalhar com os seus
alunos contou-lhes o facto, logo depois sentou-se ao lado de um deles, olhou
para ele, e pouco tempo depois morreu.
O
Hachi até morrer fizesse calor ou caísse neve, não deixou de à hora certa
procurar o dono na estação. A população local tentou vezes sem conta demovê-lo
de continuar à espera do dono, mas nunca saiu do local de espera durante quase
vinte anos, onde veio a morreu em frente à estação dos comboios coberto de
neve. Até parece que estou a vê-lo sonhar com a imagem do dono, dar os últimos
suspiros no ano de 1934, e despedir-se do mundo dos vivos. Não escondo que as
lágrimas vermelhas de tristeza, profundas e densas deslizarem pelo meu rosto,
ao escrever a história comovente do Hachi.
A
população local perante o sentimento de persistência, abnegação e amor do cão
pelo dono, acabou por angariar dinheiro e perpectuar a história do Hachi,
erguendo uma estátua de bronze em frente da estação dos comboios e na sua
cidade natal, Sichuva, Japão.
Porque
reescrevi a história do Hachi? Tudo começou num dia em que deambulava e
fotografava por montes e vales do Verde e do Minho, me deparei com uma cadela
abandonada. Ela olhava para mim com um ar tão carente, esfomeada, cheia de
desilusões e enganos, que tentei de todas as maneiras e formas para vir comigo.
Ainda hoje me interrogo vezes sem conta, por que razão a cadela rejeitou ajuda,
e esperar serenamente a morte. 2013-11-14
NOTA:
A ortografia está de acordo com a história do meu passado.
ajoVê
Sem comentários:
Enviar um comentário