sexta-feira, 15 de novembro de 2013

HACHI

São olhares como este, que me deixam a pensar...

Hachi é o nome de um cão, o oitavo do nascimento, número considerado da sorte e da felicidade no Japão. Foi comprado e enviado para a América. Pelo caminho extraviou-se. O cão como era de uma linhagem com mais de 4.000 anos, conseguiu abrir a casota onde vinha e começou a deambular pelas ruas da cidade, até escolher um dono.
À saída da estação de comboios ia a passar um professor de música do conservatório da cidade, e o cão não mais o largou. Tentou dissuadi-lo a procurar outro dono, até que junto do chefe da estação pediu-lhe que tomasse conta dele. Como ele recusou viu-se na contingência de o levar para casa.
Sabendo que a esposa tinha no passado recente, por uma enorme tristeza com o desaparecimento do cão de casa, meteu-o (sem nada lhe dizer), na garagem num caixote de papelão. Naturalmente o cão como era de uma inteligência acima da média, a meia da noite já se encontrava no quarto do casal. A esposa quando se levantou para ir à casa de banho, teve um grande susto ao ver o inocente cão todo rim pimpão ir na sua direcção. O marido tentou acalma-la, sem contudo a dissuadir de não aceitar o cão em casa.
Foi quando a filha visitava os pais, a mãe observando da janela pai e filha divertidíssimos com o cão, acabou por aceitá-lo. Todos os dias o cão acompanhava o novo dono até à estação dos comboios e depois deambulava pela cidade. Toda a gente o conhecia e um minuto antes de o combóio chegar, já o Hachi estava filado à porta da estação dos comboios, à espera do dono.
Um dia o Hachi entregou uma bola de ténis com que brincava ao dono. Ele ficou admirado, porque normalmente o cão nunca se interessava em a entregar. Nesse dia o Hachi teimou várias vezes com o dono para atirar com a bola e ele trazia-a, o que o deixou admirado. Quando se encontrava a trabalhar com os seus alunos contou-lhes o facto, logo depois sentou-se ao lado de um deles, olhou para ele, e pouco tempo depois morreu.
O Hachi até morrer fizesse calor ou caísse neve, não deixou de à hora certa procurar o dono na estação. A população local tentou vezes sem conta demovê-lo de continuar à espera do dono, mas nunca saiu do local de espera durante quase vinte anos, onde veio a morreu em frente à estação dos comboios coberto de neve. Até parece que estou a vê-lo sonhar com a imagem do dono, dar os últimos suspiros no ano de 1934, e despedir-se do mundo dos vivos. Não escondo que as lágrimas vermelhas de tristeza, profundas e densas deslizarem pelo meu rosto, ao escrever a história comovente do Hachi.
A população local perante o sentimento de persistência, abnegação e amor do cão pelo dono, acabou por angariar dinheiro e perpectuar a história do Hachi, erguendo uma estátua de bronze em frente da estação dos comboios e na sua cidade natal, Sichuva, Japão.
Porque reescrevi a história do Hachi? Tudo começou num dia em que deambulava e fotografava por montes e vales do Verde e do Minho, me deparei com uma cadela abandonada. Ela olhava para mim com um ar tão carente, esfomeada, cheia de desilusões e enganos, que tentei de todas as maneiras e formas para vir comigo. Ainda hoje me interrogo vezes sem conta, por que razão a cadela rejeitou ajuda, e esperar serenamente a morte. 2013-11-14
NOTA: A ortografia está de acordo com a história do meu passado.

ajoVê

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