terça-feira, 30 de dezembro de 2014
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
sábado, 27 de dezembro de 2014
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Quase menino...
Ontem
vi-te
quase menino
quase jesus
quase moisés
parar o trânsito
para que o teu povo
eleito
fizesse a travessia
junto ao Vasco da Gama
com a ajuda da PJ.
Maria José Meireles
vi-te
quase menino
quase jesus
quase moisés
parar o trânsito
para que o teu povo
eleito
fizesse a travessia
junto ao Vasco da Gama
com a ajuda da PJ.
Maria José Meireles
domingo, 14 de dezembro de 2014
Morrer...
Há quem morra
de enfarte
há quem morra
do pulmão
há até quem se mate
mas morrer de medo?
Não!
Maria José Meireles
de enfarte
há quem morra
do pulmão
há até quem se mate
mas morrer de medo?
Não!
Maria José Meireles
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Impossível...
Quando
o diabo
e a deusa
se apaixonaram
o impossível
acabou.
o diabo
e a deusa
se apaixonaram
o impossível
acabou.
Maria José Meireles
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Pronta...
Não sei
onde me levas
apenas
estou pronta.
Maria José Meireles
onde me levas
apenas
estou pronta.
Maria José Meireles
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sábado, 6 de dezembro de 2014
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Pensamento do dia...
Se não puderes ser o
Sol, sê uma estrela. Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...Mas sê o
melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Sexto sentido...
Se não te cheiro
nem te toco
nem te ouço
nem te vejo
nem te digo
porque te penso?
Maria José Meireles
nem te toco
nem te ouço
nem te vejo
nem te digo
porque te penso?
Maria José Meireles
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
terça-feira, 11 de novembro de 2014
A MENINA TRANSPARENTE
Posso ser vista no por-do-sol ou no nascer dele.
Eu posso estar através da janela,
Posso ser vista na asa da gaivota
Ou pelo ar que passa por ela.
Muitos me vêem no mar,
Outros na comida da panela.
Posso aparecer para qualquer ser,
Desde ele pequenininho;
Ficar com ele direitinho,
Se tratar de mim como eu merecer.
Uns me pegam pra criar em livro,
Outros me botam num vestido lindo,
Cheio de notas musicais:
Fico morando dentro da música.
Tenho muitas mães e digo mais:
Sou uma criança com muitos pais.
Tem gente que diz que eu nasço dentro da pessoa,
E faço ela olhar diferente,
Pra tudo que todos olham,
Mas não notam.
Às vezes apareço tão transparente e de mansinho
Que mais pareço um Gasparzinho.
Tem gente que nunca percebe que estou ali,
Não cuida de mim,
Não me exercita.
Eu fico como um laço de fita
Que nunca teve um rabo de cavalo dentro.
Eu fico como uma planta de dentro da casa
Que ninguém molha, conversa nem nada.
Quem me adivinha logo dentro dele,
Quem percebe que estou ali diariamente,
Quem anda comigo e com o meu gingado,
Fica com o coração inteligente
E com o pensamento emocionado.
A esse que eu dou a mão,
E vou com esse para todo lado:
Aniversários, passeios, sono, cama, biblioteca, casa, escola;
Estou com esse a toda hora.
Tem gente que me vê muito na beleza da flor,
No mato, na primavera e no calor.
É que ando muito mesmo.
Eu posso até voar!
Por isso que me vêem no céu, nas estrelas, nos planetas
E nas conversas das crianças.
Quem anda comigo tem muita esperança.
Todo mundo que me tem
Pode me usar e me espalhar por aí.
Quem gosta muito de mim,
Depois que me conhece,
Junta gente em volta como se eu fosse uma festa.
Me usam até em palestra!
Me acordam lá do papel.
Ih! Eu tinha esquecido de dizer
Que, quando a pessoa começa a me escrever,
Eu fico morando no papel.
Toda vez que alguém me lê para dentro eu passo para dentro dele.
Toda vez que alguém me lê para fora, em voz alta,
Como se eu fosse uma música,
Eu passo para dentro de todo mundo que me vê;
Eu posso trazer alento a todo mundo que me escuta.
Tem gente que me pega só numa fase,
Como se eu fosse uma gripe boa,
E como se dessa boa gripe ficasse gripada.
Quero dizer . . .
Eu dou muito no coração de gente apaixonada.
Minha palavra é do sexo feminino,
Brinco com menino e com menina,
Fico com a pessoa até ela ficar velhinha,
Inclusive de bengala;
E depois que ela morre,
Faço ela ficar viva
Toda vez que por mim é lembrada.
Às vezes eu sou sapeca,
Às vezes eu fico quieta,
Mas todo mundo que olha através de mim é poeta.
Veja se eu sou esta que fala dentro de você.
Eu não posso escrever porque não sou poeta:
Sou a poesia!
Tente agora fazer um verso.
Se eu fosse você, faria.
Elisa Lucinda
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
sábado, 8 de novembro de 2014
terça-feira, 4 de novembro de 2014
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
domingo, 2 de novembro de 2014
sábado, 1 de novembro de 2014
Em memória de Ana Paula Costa...
A Morte Não É Nada
A morte não é nada.
Eu somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês, eu continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês sempre me deram,
falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas,eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua linda e bela como sempre foi.
Henry Scott Holland
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Amigos Loucos e Sérios
Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.
Marcos Lara Resende
sábado, 25 de outubro de 2014
domingo, 19 de outubro de 2014
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Pensamento do dia...
Continua a bater à porta e a alegria que há dentro de ti, acabará por abrir uma janela e espreitar para ver quem é.
Emily Dickinson
Emily Dickinson
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Pensamento do dia...
Costumamos dizer que amigos de verdade são os que estão ao seu lado em momentos difíceis... Mas não!
Amigos verdadeiros são os que suportam a tua felicidade!
Porque em um momento difícil qualquer um se aproxima de você.
Mas o seu inimigo jamais suportaria a sua felicidade!!
Amigos verdadeiros são os que suportam a tua felicidade!
Porque em um momento difícil qualquer um se aproxima de você.
Mas o seu inimigo jamais suportaria a sua felicidade!!
domingo, 12 de outubro de 2014
Ser seu amigo Vinícius de Moraes
Obrigada Patrícia, és linda!
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Vinícius de Moraes
Por serem obrigados...
Hoje percebo
que os canalhas não mentem
apenas prometem
o impossível
por serem obrigados...
Depois só lhes resta
esquecer o que prometeram
e a vida continua...
Maria José Meireles
que os canalhas não mentem
apenas prometem
o impossível
por serem obrigados...
Depois só lhes resta
esquecer o que prometeram
e a vida continua...
Maria José Meireles
sábado, 11 de outubro de 2014
domingo, 5 de outubro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
sábado, 27 de setembro de 2014
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Agora?!...
Tracei todos
os cenários
e sofri
com os piores
vens então
em minha defesa
tardiamente.
Maria José Meireles
os cenários
e sofri
com os piores
vens então
em minha defesa
tardiamente.
Maria José Meireles
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domingo, 21 de setembro de 2014
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Ninguém come pedras
Era uma vez um rapaz muito estranho que bebia água. De todas as bebidas coloridas que há no mundo, logo teve que escolher água.
Experimentou todas as cores. Tentou beber o arco-íris inteiro, mas logo se empanturrou.
Um dia, nas suas andanças de menino, encontrou um homem bem velhinho. Tão velhinho que parecia transparente.
- Porque és assim? - o rapaz lhe perguntou.
- Assim como? – o velho ripostou.
- Tão transparente... – disse o rapaz.
- É de estar gasto... é de ter visto tantas coisas transparentes... transformei-me numa delas.
- Eu também gosto de coisas transparentes! Gosto de copos de água. – afirmou o menino.
- Copos de água? Porquê? O que fazes tu com eles? – questionou o velhote.
- Bebo, espreito, verto, engulo, vejo sempre para o outro lado! Vejo sempre coisas diferentes. Às vezes vejo grande, às vezes vejo pequeno, umas vejo magro, outras, gordo. É a melhor brincadeira do mundo.
II
Na caixa do correio o menino encontrou um envelope bem gordo. Dentro dizia que o velhinho já não estava mais por cá. Tinha-se esfumado no ar e já não havia vestígios da sua existência. Tinha-lhe deixado umas pedras transparentes e um papel amarelo com umas letras bonitas onde dizia que aquelas e muitas outras pedras transparentes que vinham de uma gruta da montanha eram dele. Podia fazer o que quisesse com elas.
Logo muitos espertalhões, de todos os países do mundo, apareceram com ideias maravilhosas de ganhar muito dinheiro e, com esse dinheiro, comprar muitos objetos ainda mais maravilhosos. Parecia que aquelas pedras eram muito valiosas...
Para o rapaz muito estranho, não havia nada de especial para pensar. Depois de muitas propostas ouvir, de muitos sábios atender e de muitas ideias considerar, regressou ao seu coração: “Quero continuar a brincar!” – pensou.
Sabia jogar um jogo e tinha que experimentar!
Propôs aos sábios a sua ideia. Todos a acharam um disparate, mas como o menino era dono das pedras transparentes, não o podiam contrariar. Até podiam não parecer inteligentes se o tentassem parar.
O rapaz sentou-se à porta da sua casa normal, com a sua roupa normal e o seu jeito normal. À sua frente havia uma mesa de madeira com um letreiro pousado, onde se podia ler:
TROCAM-SE PEDRAS
TRANSPARENTES POR
COPOS DE ÁGUA –
UM POR UM
Todos os que passavam estavam muito atarefados. Iam para algum lado fazer alguma coisa importante. Só os meninos e as meninas arrastavam os pais para brincar. Olhavam para as formas diferentes e para a luz a cintilar. Umas eram redondas, outras compridas, havia até umas bicudas. Dava para espreitar e até ver os adultos a crescer e a mingar. Começou então a troca que de boca em boca se espalhou:
- Há um menino em tal lugar que dá pedras transparentes em troca de um copo de água!
- Que tonto! – resmungava um.
- Que doido! – rezingava outro.
- Que génio! – maravilhou-se ainda outro.
- Que génio!?!?!? – questionaram-se tantos.
- Nós, aqui no nosso lugar, vamos trocar pedras douradas por sacos de trigo.
Mais uma vez os adultos passavam pela banca das pedras douradas e não queriam jogar aquele jogo. As crianças paravam, faziam as trocas e maravilhavam-se com o reflexo do sol a cintilar naquelas pedrinhas fantásticas.
De boca em boca, também esta história se espalhou e, mais uma vez o povo deu a sua opinião.
- Que tonto! – resmungava um.
- Que doido! – rezingava outro.
- Que génio! – maravilhou-se ainda outro.
- Que génio!?!?!? – questionaram-se tantos.
- Nós, aqui no nosso lugar, vamos trocar pedras prateadas por sacos de arroz.
Ainda outra vez os adultos não quiseram brincar. Os meninos, por seu lado, logo se encantaram com o brilho pálido do reflexo da lua nestas pedrinhas de encantar.
Pela terceira vez a história correu mundo e o povo deu a sua opinião.
- Que tonto! – resmungava um.
- Que doido! – rezingava outro.
- Que génio! – maravilhou-se ainda outro.
- Que génio!?!?!? – questionaram-se tantos.
III
Na terra do rapaz muito estranho que bebia água correu notícia de que a sede e a fome já não existiam. Em todas as terras do mundo esta notícia se espalhou. Aqueles bocadinhos de vidro e metal serviam agora para enfeitar as ruas das cidades onde os meninos podiam espreitar e ver o mundo a crescer ou a diminuir.
Maria João Marques
e Maria José Meireles
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
domingo, 14 de setembro de 2014
A aldeia que nunca mais foi a mesma
Era uma aldeia de pescadores de onde a alegria fugira, e os dias e as noites se sucediam numa monotonia sem fim, das mesmas coisas que aconteciam, das mesmas coisas que se diziam, dos mesmos gestos que se faziam, e os olhares eram tristes, baços peixes que já nada procuravam, por saberem inútil procurar qualquer coisa, os rostos vazios de sorrisos e de surpresas, a morte prematura morando no enfado, só as intermináveis rotinas do dia a dia, prisão daqueles que se haviam condenado a si mesmos, sem esperanças, nenhuma outra praia pra onde navegar...
Até que o mar, quebrando um mundo, anunciou de longe que trazia nas suas ondas coisa nova, desconhecida, forma disforme que flutuava, e todos vieram à praia, na espera... E ali ficaram, até que o mar, sem se apressar, trouxe a coisa e a depositou na praia, surpresa triste, um homem morto...
E o que é que se pode fazer com um morto, se não enterrá-lo? Tomaram-no então para os preparativos de funeral, que naquela aldeia ficavam a cargo das mulheres; às vezes é mais grato preparar os mortos para a sepultura que acompanhar os vivos na morte em que se perderam ao viver. Foi levado para uma casa, os homens de fora, olhando...
No corpo morto as algas, os líquens, as coisas verdes do mar, testemunhas de funduras e distâncias, mistérios escondidos para sempre no silêncio de sua boca sem palavras...
As mãos começaram o trabalho, e nada se dizia, só os rostos tristes... Até que uma delas, um leve tremor no canto dos lábios, balbuciou:
– “É, se tivesse vivido entre nós teria de se ter curvado sempre para entrar em nossas casas. É muito alto...”
E todas assentiram com o silêncio.
– “Fico a pensar em como teria sido a sua voz”, disse uma outra. “Teria sido como o quebrar das ondas? Como a brisa nas folhas? Será que ele conhecia a magia das palavras que, uma vez ditas, fazem uma mulher colher uma flor e a colocar nos cabelos?”
As outras sorriram, surpresas de memórias que começavam a surgir de profundezas, como bolhas que sobem de espaços submarinos, desejos há muito esquecidos.
Foi então que uma outra, olhando aquelas mãos enormes, inertes, disse as saudades que arrepiavam a sua pele:
– “Estas mãos... que terão feito? Terão tomado no seu vazio um rosto de mulher? Terão sido ternas? Terão sabido amar?”
E elas sentiram que coisas belas e sorridentes, há muito esquecidas, passadas por mortas, nas suas funduras, saíam do ouvido e vinham, mansas, se dizer no silêncio do morto. A vida renascia na morte graciosa de um morto desconhecido e que, por isto mesmo, por ser desconhecido, deixava que pusessem no seu colo os desejos que a morte em vida proibira...
E os homens, do lado de fora, perceberam que algo estranho acontecia: os rostos das mulheres, maçãs em fogo, os olhos brilhantes, os lábios úmidos, o sorriso selvagem, e compreenderam o milagre: vida que voltava, ressurreição de mortos... E tiveram ciúmes do afogado... Olharam para si mesmos, se acharam pequenos e domesticados, e perguntaram se aquele homem teria feito gestos nobres (que eles não mais faziam) e pensaram que ele teria travado batalhas bonitas (onde a sua coragem?), e o viram brincando com crianças (mas lhes faltava a leveza...), e o invejaram amando como nenhum outro (mas onde se escondera o seu próprio amor?)...
Termina a estória dizendo que eles, finalmente, o enterraram.
Mas a aldeia nunca mais foi a mesma...
Não, não é à toa que conto esta estória. Foi quando soube da morte – ela cresceu dentro de mim. Claro que eu já suspeitava: os cavalos de guerra odeiam crianças; e o bronze das armas odeia canções, especialmente quando falam das flores, e não se ouve o ruflar lúgubre dos tambores da morte. Foi naquele dia, fim de abril, o mês do céu azul e do vento manso. Eu sabia da morte, mas havia em mim um riso teimoso, mais forte que o carrasco, esperança, visão de coisas que eu não sabia vivas. Foi então que me lembrei da história. Não, foi ela que se lembrou de mim, e veio para dar nome aos meus sentimentos e se contou de novo. Só que agora os rostos anônimos viraram rostos que eu vira, caminhando e cantando, seguindo a canção, risos que corriam para ver a banda passar contando coisas de amor, os rojões, as buzinas, as panelas, sinfonia que se tocava sobre a desculpa de um morto...
Mas não era isto, não era o morto: era o desejo que jorrava, vida, mar que saía de funduras reprimidas e se espraiava como onda, espumas e conchinhas, mansa e brincalhona...
Ah! O povo se descobrira, tão bonito como nunca suspeitara...
Não era raiva.
Não era azia.
Nem mesmo fome ou desemprego.
O bonito foi isto mesmo: que de tantos golpes, de tanta dor, tenham surgido canções, tenha brotado uma flor.
Lembra-se? Aconteceu na estação da Páscoa...
A Vida ressurge da Morte.
Três dias, vinte anos, um século... Não importa...
Por favor: conte para alguém a estória da aldeia que, depois de enterrar um morto, nunca mais foi a mesma.. Nós...
P.S.: Quase me esqueci de dizer. A estória é de Gabriel Garcia Marquez. Eu só a recontei do meu jeito...
(Rubem Alves, crônica para o jornal “Folha de São Paulo”, em 19/05/1984)
Até que o mar, quebrando um mundo, anunciou de longe que trazia nas suas ondas coisa nova, desconhecida, forma disforme que flutuava, e todos vieram à praia, na espera... E ali ficaram, até que o mar, sem se apressar, trouxe a coisa e a depositou na praia, surpresa triste, um homem morto...
E o que é que se pode fazer com um morto, se não enterrá-lo? Tomaram-no então para os preparativos de funeral, que naquela aldeia ficavam a cargo das mulheres; às vezes é mais grato preparar os mortos para a sepultura que acompanhar os vivos na morte em que se perderam ao viver. Foi levado para uma casa, os homens de fora, olhando...
No corpo morto as algas, os líquens, as coisas verdes do mar, testemunhas de funduras e distâncias, mistérios escondidos para sempre no silêncio de sua boca sem palavras...
As mãos começaram o trabalho, e nada se dizia, só os rostos tristes... Até que uma delas, um leve tremor no canto dos lábios, balbuciou:
– “É, se tivesse vivido entre nós teria de se ter curvado sempre para entrar em nossas casas. É muito alto...”
E todas assentiram com o silêncio.
– “Fico a pensar em como teria sido a sua voz”, disse uma outra. “Teria sido como o quebrar das ondas? Como a brisa nas folhas? Será que ele conhecia a magia das palavras que, uma vez ditas, fazem uma mulher colher uma flor e a colocar nos cabelos?”
As outras sorriram, surpresas de memórias que começavam a surgir de profundezas, como bolhas que sobem de espaços submarinos, desejos há muito esquecidos.
Foi então que uma outra, olhando aquelas mãos enormes, inertes, disse as saudades que arrepiavam a sua pele:
– “Estas mãos... que terão feito? Terão tomado no seu vazio um rosto de mulher? Terão sido ternas? Terão sabido amar?”
E elas sentiram que coisas belas e sorridentes, há muito esquecidas, passadas por mortas, nas suas funduras, saíam do ouvido e vinham, mansas, se dizer no silêncio do morto. A vida renascia na morte graciosa de um morto desconhecido e que, por isto mesmo, por ser desconhecido, deixava que pusessem no seu colo os desejos que a morte em vida proibira...
E os homens, do lado de fora, perceberam que algo estranho acontecia: os rostos das mulheres, maçãs em fogo, os olhos brilhantes, os lábios úmidos, o sorriso selvagem, e compreenderam o milagre: vida que voltava, ressurreição de mortos... E tiveram ciúmes do afogado... Olharam para si mesmos, se acharam pequenos e domesticados, e perguntaram se aquele homem teria feito gestos nobres (que eles não mais faziam) e pensaram que ele teria travado batalhas bonitas (onde a sua coragem?), e o viram brincando com crianças (mas lhes faltava a leveza...), e o invejaram amando como nenhum outro (mas onde se escondera o seu próprio amor?)...
Termina a estória dizendo que eles, finalmente, o enterraram.
Mas a aldeia nunca mais foi a mesma...
Não, não é à toa que conto esta estória. Foi quando soube da morte – ela cresceu dentro de mim. Claro que eu já suspeitava: os cavalos de guerra odeiam crianças; e o bronze das armas odeia canções, especialmente quando falam das flores, e não se ouve o ruflar lúgubre dos tambores da morte. Foi naquele dia, fim de abril, o mês do céu azul e do vento manso. Eu sabia da morte, mas havia em mim um riso teimoso, mais forte que o carrasco, esperança, visão de coisas que eu não sabia vivas. Foi então que me lembrei da história. Não, foi ela que se lembrou de mim, e veio para dar nome aos meus sentimentos e se contou de novo. Só que agora os rostos anônimos viraram rostos que eu vira, caminhando e cantando, seguindo a canção, risos que corriam para ver a banda passar contando coisas de amor, os rojões, as buzinas, as panelas, sinfonia que se tocava sobre a desculpa de um morto...
Mas não era isto, não era o morto: era o desejo que jorrava, vida, mar que saía de funduras reprimidas e se espraiava como onda, espumas e conchinhas, mansa e brincalhona...
Ah! O povo se descobrira, tão bonito como nunca suspeitara...
Não era raiva.
Não era azia.
Nem mesmo fome ou desemprego.
O bonito foi isto mesmo: que de tantos golpes, de tanta dor, tenham surgido canções, tenha brotado uma flor.
Lembra-se? Aconteceu na estação da Páscoa...
A Vida ressurge da Morte.
Três dias, vinte anos, um século... Não importa...
Por favor: conte para alguém a estória da aldeia que, depois de enterrar um morto, nunca mais foi a mesma.. Nós...
P.S.: Quase me esqueci de dizer. A estória é de Gabriel Garcia Marquez. Eu só a recontei do meu jeito...
(Rubem Alves, crônica para o jornal “Folha de São Paulo”, em 19/05/1984)
sábado, 13 de setembro de 2014
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
Desiderate
Vai serenamente por entre a agitação e a pressa e
lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente, mantém-te tanto quanto
possível, em boas relações com todos.
Diz a tua verdade calma e claramente e escuta com
atenção os outros mesmo que menos dotados e ignorantes; também eles têm a sua
história.
Evita as pessoas barulhentas e agressivas; são
mortificações para o espírito.
Se te comparas com os outros podes tornar-te
presunçoso ou melancólico porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores
a ti.
Apraz-te com as tuas realizações tanto como com
os teus planos. Põe todo o interesse na tua carreira ainda que ela seja
humilde; é um bem real nos destinos mutáveis do tempo.
Usa de prudência nos teus negócios porque o mundo está
cheio de astúcia; mas que isto não te cegue a ponto de não veres virtude onde
ela existe; muitas pessoas lutam por altos ideais e em todo o lado a vida está
cheia de heroísmo.
Sê fiel a ti mesmo. Sobretudo não simules afeição nem
sejas cínico em relação ao amor porque, em face da aridez e do desencanto, ele
é perene como a relva.
Toma amavelmente o conselho dos mais idosos,
renunciando com graciosidade às ideias da juventude.
Educa a fortaleza de espírito para que te
salvaguarde numa inesperada desdita. Mas não te atormentes com fantasias.
Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.
Para além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo
mesmo.
Tu és filho do universo e, tal como as árvores e as
estrelas, tens direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem
dúvida que o universo é – te disto revelador.
Portanto vive em paz com Deus seja qual for a ideia
que d´Ele tiveres. E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações, na ruidosa
confusão da vida, conserva-te em paz com a tua alma.
Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos
desfeitos o mundo é ainda maravilhoso.
Sê alegre. Luta para seres feliz.
Max Ehrmann
( Tradução livre de M.L.Peixoto) – versão portuguesa do “Desiderate”.
Max Ehrmann
( Tradução livre de M.L.Peixoto) – versão portuguesa do “Desiderate”.
sábado, 6 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Amor...
Em todas
as esquinas
do tempo
tão discreto
e só sente
quem sabe
que existe.
Maria José Meireles
Etiquetas:
Fragmento de bondade,
Ludovico Einaudi
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
terça-feira, 2 de setembro de 2014
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Pé de dança...
O pé
é de chumbo
a cabeça
é de chumbo
o coração
é de chumbo
e a dança
será solução?
Maria José Meireles
é de chumbo
a cabeça
é de chumbo
o coração
é de chumbo
e a dança
será solução?
Maria José Meireles
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Chico Buarque,
Fragmento de bondade
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Acreditar...
Meu coração
diz
que amo
única verdade
em que acredito.
Maria José Meireles
diz
que amo
única verdade
em que acredito.
Maria José Meireles
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David Bowie,
Fragmento de bondade
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
terça-feira, 12 de agosto de 2014
O tempo que foge
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que
ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.
Ricardo Gondim
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
domingo, 3 de agosto de 2014
Árvore...
sábado, 2 de agosto de 2014
quinta-feira, 24 de julho de 2014
sábado, 19 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Jardim...
Não compra
pessoas
nem plantas
e tem
a casa cheia.
Maria José Meireles
pessoas
nem plantas
e tem
a casa cheia.
Maria José Meireles
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ajoVê,
Fragmento de bondade
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Adoro ler-te... pois!...
Perguntas se vou
à Feira do Livro
esta tarde,
ou a um rio para lá...
ou a uma montanha
com vista para o infinito...
e eu digo:
adoro ler-te... pois!...
Maria José Meireles
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Fragmento de bondade,
Mark Knopfler
sábado, 12 de julho de 2014
Poema
A minha vida é o mar o Abril a rua O meu interior é uma atenção voltada para fora O meu viver escuta A frase que de coisa em coisa silabada Grava no espaço e no tempo a sua escrita Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro Sabendo que o real o mostrará Não tenho explicações Olho e confronto E por método é nu meu pensamento A terra o sol o vento o mar São a minha biografia e são meu rosto Por isso não me peçam cartão de identidade Pois nenhum outro senão o mundo tenho Não me peçam opiniões nem entrevistas Não me perguntem datas nem moradas De tudo quanto vejo me acrescento E a hora da minha morte aflora lentamente Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
sexta-feira, 11 de julho de 2014
quinta-feira, 10 de julho de 2014
domingo, 6 de julho de 2014
A FÚRIA DA BELEZA
Estupidamente bela
a beleza dessa maria-sem-vergonha rosa
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda,
a beleza, quando é linda demais,
dá uma imagem feita só de sensações,
de modo que, apesar de não se ter consciência desse todo,
naquele instante não nos falta nada.
É um pá. Um tapa. Um gole.
Um bote nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda
a beleza doeu profundo no peito essa manhã.
Doeu tanto que eu dei de chorar,
por causa e uma flor comum e misteriosa do caminho.
Uma delicada flor ordinária,
brotada da trivialidade do mato,
nascida do varejo da natureza,
me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumo
e me pôs a mesa...
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda,
quase tristeza.
Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal.
É uma dobradura do real, uma dimensão dele,
uma mágica à queima-roupa sem truque nenhum.
Porque é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força
que eu dei de soluçar!
O esplendor do que eu vi era pancada,
era baque e era bonito demais!
Penso, às vezes, que vivo para esse momento
indefinível, sagrado, material, cósmico,
quase molecular.
Posto que é mistério,
descrevê-lo exato perambula ermo
dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz
que nasce o acontecimento poético.
Poesia é quando a iluminação zureta,
bela e furiosa desse espanto
se transforma em palavra!
A florzinha distraída
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo,
como aquele ápice do prazer
que a gente pensa que vai até morrer!
Como aquele máximo indivisível,
que, de tão bom, é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede pára
querendo que e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilo
não se agüenta mais,
sabe como é?
Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!
© ELISA LUCINDA
In A Fúria da Beleza, 2006
In A Fúria da Beleza, 2006
terça-feira, 1 de julho de 2014
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello
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Lello,
Sophia de Mello Breyner Andresen
sábado, 28 de junho de 2014
Aprendi
"Aprendi com o Mestre dos Mestres que a arte de pensar é o tesouro dos sábios. Aprendi um pouco mais a pensar antes de reagir, a expor - e não impor - minhas idéias e a entender que cada pessoa é um ser único no palco da existência.
Aprendi com o Mestre da Sensibilidade a navegar nas águas da emoção, a não ter medo da dor, a procurar um profundo significado para a vida e a perceber que nas coisas mais simples e anônimas se escondem os segredos da felicidade.
Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão rápido, sinto necessidade de compreender minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade preciosa de crescer.
Aprendi com o Mestre do Amor que a vida sem amor é um livro sem letras, uma primavera sem flores, uma pintura sem cores. Aprendi que o amor acalma a emoção, tranquiliza o pensamento, incendeia a motivação, rompe obstáculos intransponíveis e faz da vida uma agradável aventura, sem tédio, angústia ou solidão. Por tudo isso Jesus Cristo se tornou, para mim, um Mestre Inesquecível".
Augusto Cury
Aprendi com o Mestre da Sensibilidade a navegar nas águas da emoção, a não ter medo da dor, a procurar um profundo significado para a vida e a perceber que nas coisas mais simples e anônimas se escondem os segredos da felicidade.
Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão rápido, sinto necessidade de compreender minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade preciosa de crescer.
Aprendi com o Mestre do Amor que a vida sem amor é um livro sem letras, uma primavera sem flores, uma pintura sem cores. Aprendi que o amor acalma a emoção, tranquiliza o pensamento, incendeia a motivação, rompe obstáculos intransponíveis e faz da vida uma agradável aventura, sem tédio, angústia ou solidão. Por tudo isso Jesus Cristo se tornou, para mim, um Mestre Inesquecível".
Augusto Cury
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
domingo, 22 de junho de 2014
Poesia Matemática
Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
frequentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.
Millôr Fernandes (1924-2012)
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