Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões
sábado, 30 de junho de 2018
domingo, 24 de junho de 2018
sábado, 23 de junho de 2018
sexta-feira, 22 de junho de 2018
chega-me ao ouvido um lamento comedido
uma doce canção de embalar perdida nos tempos idos
que hoje ninguém sabe cantar
[se é uma canção de embalar não poderá ser um lamento]
se nestas terras é o verão que chega, noutras é o inverno que começa
e a voz doce e trémula vai percorrendo o espaço
ouço-a, ora claramente ora imperceptível
[se não está ninguém contigo, nada podes ouvir]
a chuva parou, não tenho fome, nem sede sei ter
os primeiros raios de sol rasgam as nuvens pesadas
não quero ouvir os que de mim se acercam, apenas aquela canção de embalar
uma doce canção de embalar perdida nos tempos idos
que hoje ninguém sabe cantar
[se é uma canção de embalar não poderá ser um lamento]
se nestas terras é o verão que chega, noutras é o inverno que começa
e a voz doce e trémula vai percorrendo o espaço
ouço-a, ora claramente ora imperceptível
[se não está ninguém contigo, nada podes ouvir]
a chuva parou, não tenho fome, nem sede sei ter
os primeiros raios de sol rasgam as nuvens pesadas
não quero ouvir os que de mim se acercam, apenas aquela canção de embalar
LauraAlberto
quinta-feira, 21 de junho de 2018
Encomenda
Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
Cecília Meireles
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Poemas São como Vitrais Pintados
Poemas são como vitrais pintados!
Se olharmos da praça para a igreja,
Tudo é escuro e sombrio;
E é assim que o Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? — Que lhe preste!...
E agastado fique toda a vida!
Mas — vamos! — vinde vós cá para dentro,
Saudai a sagrada capela!
De repente tudo é claro de cores:
Súbito brilham histórias e ornatos;
Sente-se um presságio neste esplendor nobre;
Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus!
Edificai-vos, regalai os olhos!
Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
Tradução de Paulo Quintela
Se olharmos da praça para a igreja,
Tudo é escuro e sombrio;
E é assim que o Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? — Que lhe preste!...
E agastado fique toda a vida!
Mas — vamos! — vinde vós cá para dentro,
Saudai a sagrada capela!
De repente tudo é claro de cores:
Súbito brilham histórias e ornatos;
Sente-se um presságio neste esplendor nobre;
Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus!
Edificai-vos, regalai os olhos!
Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
Tradução de Paulo Quintela
segunda-feira, 18 de junho de 2018
domingo, 17 de junho de 2018
sábado, 16 de junho de 2018
Autobiografia em cinco pequenos capítulos
I
Ando numa rua.
II
Caminho na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Faço de conta que não o vejo.
Volto a cair no buraco.
Nem quero acreditar que foi no mesmo sítio.
Mas a culpa não é minha.
Vai ser preciso ainda muito tempo para sair do buraco.
IV
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco.
Contorno-o.
V
Sigo por outra rua.
Portia Nelson (trad. Luis Aguilar)
Ando numa rua.
Há um grande buraco no passeio.
Caio no buraco.
Sinto-me perdido…
Impotente.
A culpa não é minha.
Uma eternidade até que consiga sair do buraco.
Caio no buraco.
Sinto-me perdido…
Impotente.
A culpa não é minha.
Uma eternidade até que consiga sair do buraco.
II
Caminho na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Faço de conta que não o vejo.
Volto a cair no buraco.
Nem quero acreditar que foi no mesmo sítio.
Mas a culpa não é minha.
Vai ser preciso ainda muito tempo para sair do buraco.
III
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Vejo-o muito bem.
Mesmo assim caio…
Tornou-se um hábito!
Sei onde estou.
A culpa é minha.
A culpa é minha.
Saio do buraco imediatamente.
IV
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco.
Contorno-o.
V
Sigo por outra rua.
Portia Nelson (trad. Luis Aguilar)
sexta-feira, 15 de junho de 2018
Flor de Jade...
1. Talhar a refeição
antes de ser alimento
2. equilibrar a sorte
antes de acabar
3. passar o testemunho
antes de ser
tarde demais.
Maria José Meireles
antes de ser alimento
2. equilibrar a sorte
antes de acabar
3. passar o testemunho
antes de ser
tarde demais.
Maria José Meireles
quinta-feira, 14 de junho de 2018
quarta-feira, 13 de junho de 2018
Curiosidades estéticas
O mais importante na vida
É ser-se criador - criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir a voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.
António Botto (1897-1959), "O mais importante" in Canções (1920)
É ser-se criador - criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir a voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.
António Botto (1897-1959), "O mais importante" in Canções (1920)
segunda-feira, 11 de junho de 2018
sábado, 9 de junho de 2018
segunda-feira, 4 de junho de 2018
sexta-feira, 1 de junho de 2018
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