Marte, cansado da Guerra, do Sofrimento e da Morte, desceu a
Montanha... - Crua, Agreste, Seca, Deserta... - a da dureza da rocha
mais dura, da pedra nua... - a da Crueldade dos homens da Terra!
Na Planície, pousou o Escudo partido, e descansou a fera Lança de
sangue coberta... à sombra suave da Árvore Sagrada... - a da Luz
suplicante, doce, bruxuleante...
Olhou para o Sol, hesitante, quase perdido... mas sua Mente e seu
Corpo seguiram o seu Rumo - descente, sempre para Ocidente...
Mil dias passaram... até que, seus pés, ensanguentados, sofridos,
marcados pelas agruras do caminho, pisaram e descansaram, por fim, em
areias douradas, macias, cálidas...- para além do fim da Terra
Deserta, Crua e Fria, - as areias do Início do Mar... do Princípio da
Vida...
Lá! - onde existe o Ar puro, ausente do bafo pútrido da Maldade do
homem... Ali! - onde se sente o aroma fresco, o cheiro intenso, o
sabor, o perfume... a Visão do Horizonte sem fim... o do Mar Azul, do
Mar Transparente - o do Verde Límpido da Pura Água Marinha... a do Mar
Bendito... a do Mar Infinito! ... o do longínquo Oceano da Paz!
Ele, o deus da Guerra, dorido, querendo memória apagar, pediu a
Júpiter... e... sim! - emprestou ao Sol Poente as cores mais quentes,
as mais íntimas, as permanentes, as mais sofridas, ... - as do Fogo
Fundente... - as do fundo da sua Alma! - triste, cansada, partida... a
do Espírito sofrente, pungente...
Ele, o Guerreiro Indomável!, pediu, soluçou!, humilde!, ao Sol... um
Raio de Luz, um Sinal de Perdão... o Condão de um descanso... de uma
Bênção, de uma Contrição...
A Lua, a Filha dileta do Astro Rei, ouviu e sentiu... e, por seu Pai
agraciada, condoída... por si... e por mais de mil anos... - em suave
carinho, acariciou e sarou, com seus Raios de Prata, o Sono, os
Sonhos, e as Feridas... do deus Guerreiro... e do seu Destino - o mais
Heróico, sim!... mas... em muito, o mais Fatal!
Um dia, de madrugada, ao Sol nascer, um Raio de Luz, branquíssimo,
fulgentíssimo, fendeu os olhos entreabertos de Marte... acordou a
dormente, a já mais serena, quase fechada, negra pupila - gravando,
num momento, e para sempre, em seus Olhos e em seu Coração, - de
Leão!, - ainda fero, ainda selvagem... - a mais Bela miragem! - a
Belíssima Imagem! - a de Vénus Princesa - saindo, sorrindo, da espuma
alvíssima das ondas... em seu Corpo molhado, brilhante, dourado... de
Beleza sagrado! ...
Uma Luz intensa - um relâmpago!... e um Vento súbito, vindo do Mar, em
turbilhão, envolveu Marte e Vénus abraçados, subiu para além das
Núvens, e... suavemente... pousou-os às Portas do Paraíso.
O.A.A.P.
2012
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