domingo, 13 de janeiro de 2019

AJOELHAREI EM TERRA E DOBRAREI A FRONTE

Há dias em que a pobreza me invade.
Não tenho e não toco sons.
Busco e rebusco, choro a cidade
Desde os mais baixos aos altos tons.
Penso, com amargura ser da idade
E que só os mais novos têm dons.

Explode o coração pleno de revolta,
Vivo o tumulto das guerras na rua
Fecho a porta sem à chave dar a volta,
O corpo visto, mas a alma tenho nua.
Sinto nas entranhas diabos à solta,
Só há negrume, apagou-se o sol e a lua.

Por desgraça, que não a há maior,
Não tenho moeda para a Barca de Caronte.
Ficarei em terra deste lado, ou pior,
Espiarei em vida todo o mal que mal vos conte
Raiados os olhos de sangue nesta dor,
Ajoelharei em terra e dobrarei a fronte.

Carmindo Ramos

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