Domava dragões com uma festa no focinho ou com o olhar e, às vezes,
mais aborrecida, dizia:
Não sejas assim…
E o dragão deixava de ser assim.
Mas estava triste e pensava:
Não crio nada, estou em pousio.
Na verdade, a Princesa há muito que não desenhava palavras, não escrevia cores
– pois era assim que trabalhava, a Princesa.
Lembrei-me de um texto antigo.
Fosse Rei
E terias ouro
Incenso mirra
Fosse pastor
E terias
Ovelhas
Cabritos
Terás
Neste dia
Palavras.
Sou apenas
Lavrador
De sonhos.
Pensei para comigo: em vez de ser lavrador, vou ser roubador.
Roubador de sonhos.
Fui aos sonhos da Z. e roubei estrelas
Fui ao sonho das abelhas e roubei geleia real
Fui aos sonhos da C. e roubei chocolates.
Pus tudo num saquinho
Que não era de linho.
Caminhei devagar até chegar ao seu castelo,
entrei no salão da Princesa Triste e falei assim:
A natureza também entra em pousio
Precisa descansar
Depois reverdece e dá frutos
Ela sabe esperar.
Amanhã ou depois
Não há pressa
Vais sonhar e criar.
Depois, depus a seus pés o saquinho
Que não era de linho.
Disse-lhe então:
Sou um roubador de sonhos
Estes não são meus, não
Mas teus serão.
Sou apenas o portador que roubou
E muito caminhou
para te ver sorrir.
E a Princesa Triste, pegou nos sonhos e sorriu.
Alf. - 22 / julho / 2018
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