segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pensamento do dia...

Honestamente aceito que me abandones mas não que te abandones.

Maria José Meireles


domingo, 28 de agosto de 2011

Harpa...

Ser harpa
em que tocas
músicas inebriantes
até ao êxtase
depois do silêncio.
Depois o silêncio.

Maria José Meireles

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quando te vi amei-te já muito antes

Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fôsse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro.

E eu soube-o só depois, quando te vi,
E tive para mim melhor sentido,
E o meu passado foi como uma 'strada
Iluminada pela frente, quando
O carro com lanternas vira a curva
Do caminho e já a noite é tôda humana.

Quando eu era pequena, sinto que eu
Amava-te já longe, mas de longe...

Amor, diz qualquer cousa que eu te sinta!
-Compreendo-te tanto que não sinto,
Oh coração exterior ao meu!
Fatalidade, filha do destino
E das leis que há no fundo dêste mundo!
Que és tu a mim que eu compreenda ao ponto
De o sentir...?

Fernando Pessoa

Rita Lee e Roberto de Carvalho - Pega rapaz

sábado, 20 de agosto de 2011

Feitiço...

Vinha apenas
para ocupar o tempo
mas esqueceu-se
de deixar o coração
em casa
quando quis partir
percebeu
que já não ia inteiro.

Maria José Meireles

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ainda...

Sem som nem cor
sem cheiro nem sabor
quero palavras
quero existir.

Maria José Meireles

Yesterday - sung by Eva Cassidy - imagery by Helen

Pensamento do dia...

Servia-se de uma mulher apenas para a servir.

Maria José Meireles

Pensamento do dia...

Ainda estaria à minha procura se não me tivesse já encontrado.

Maria José Meireles

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pensamento do dia...

Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.

Manoel de Barros

sábado, 13 de agosto de 2011

Pensamento do dia...

Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.

Manoel de Barros

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Segundo Dia



Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumor das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas.
Só sei o nada aumentado.
Eu sou culpado de mim.
Vou nunca mais ter nascido em agosto.
No chão de minha voz tem um outono.
Sobre meu rosto vem dormir a noite.

Manoel de Barros

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Por viver muitos anos dentro do mato
Moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.

Manoel de Barros

terça-feira, 9 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pensamento do dia...

Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei.

Manoel de Barros

sábado, 6 de agosto de 2011

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

Manoel de Barros

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Texto de uma leitora, que não quer ser identificada, que tinha um tio-avô que não quis ser juiz...

Olá Miguel, gostei muito de abrir o mail e encontrar esta mensagem.

Tive um tio-avô que era juiz. Por se envolver em questões políticas, foi colocado em Mondim de Basto. Quando lá chegou e compreendeu o tamanho do seu castigo, mandou dar meia volta ao carro de cavalos e tornou-se agricultor. Tinha muitos empregados que trabalhavam em troca de conselhos e era um grande agricultor. Ele dizia que a agricultura é a arte de empobrecer alegremente. Não perseguia a verdade, mas queria saber onde estava Deus.

Eu já persegui a verdade durante muitos anos; hoje penso que a verdade e a mentira são faces de uma mesma moeda. Prefiro a verdade, mas já tenho uma relação mais pacífica com a mentira. Ela vem da condição humana, de sermos seres em busca da perfeição. Não é defeito, é feitio.

O meu tio-avô juiz agricultor, um dia, sorriu-me e fez-me ter fé na bondade do mundo. Quando me dizem com orgulho: "já perdi a ingenuidade", sinto pena porque sei que isso significa: "já perdi a fé na bondade do mundo".

As nossas escolas ensinam muitas coisas boas, mas têm um currículo oculto que contempla a maldade em larga escala e estratégias subtis de branqueamento e lavagens de maus sentimentos, maus valores e más acções. Um dia cheguei à conclusão de que, para se ser um bom professor, não se podia ser muito boa pessoa (antes de conhecer Rubem Alves, claro).

Não se fazem omeletas sem ovos, costuma dizer-se. Não podemos ensinar a maldade e esperar que as pessoas sejam bondosas. Os melhores alunos, os que aprenderam melhor a maldade, chegam ao topo (e vingam-se) - eu diria que é justo.

A educação está nas lonas, mas muitos professores continuam a preocupar-se, apenas, com a... carreira. Antes me chamem "Padeira de Aljubarrota"...

Retirado de abnoxio