sábado, 30 de janeiro de 2021

Nos degraus do tempo

fui subindo...

caminhando com passos certos

palavras descalças

e folhas das horas

espalhadas no chão

como lamentos de saudade

nas noites de luar.

Vales e penedias esbranquiçadas

e fui subindo...

Ouvi os queixumes

das fruteiras abandonadas

e o amanhecer das carriças

mas no horizonte

em tábua de salvação surgiu

Epimeteu mascarado

com a mão cheia segurava 

a chave da abóbada

despiu o musgo das pedras

e no fundo destas

apareceu a esperança.

Senti-me Minerva ou Pandora.

Fui andando.

 

Linda Coelho

Aos olhos de Deus...

Cinco perus
fizeram-lhe
um cerco
contra a parede
mas quando
o peru chefe
fez o ataque
da raiva
nasceu
a coragem
da luz.


Maria José Meireles

domingo, 24 de janeiro de 2021

Abraço...

Com saudades 
precoces 
devolves
esse abraço 
capaz de salvar 
a vida 
e que agora 
arrebata 
o mar 
aos meus olhos.

Maria José Meireles

SE O SOL APARECER

Domingo de votação
Para a nobre eleição
Nível Presidencial.
Se o sol aparecer
Após o alvorecer
Será pois essencial

Para afluirmos às urnas
Sem as feições taciturnas
Sim, de jovial semblante.
E o sol apareceu
Mas logo se arrependeu
Mostrando-se hesitante

A manhã vai mais de meio
Ainda a chuva não veio
Olho pró céu a rogar
Que a dita chuva não venha
E que o sol se mantenha
Para então irmos votar.

Carmindo Ramos

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Soneto presente

Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como um poeta ou um cavalo
de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima
porque é de baixo que me vem acima
a força do lugar que fôr o meu

José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Cantar de Galo...

Ainda há loucos

que se erguem

por um justo

e cantam

três vezes.


Maria José Meireles

No osso da fala dos loucos têm lírios. 

Manoel de Barros

Loucura...

Dizes

que os hipócritas

temem

a fala

do justo.


Maria José Meireles

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Luar do Sertão

Luiz Gonzaga e Milton Nascimento - Luar do Sertao - legendado

Primavera...

UM NOVO CONFINAMENTO

Quando faço as caminhadas
Tantas coisas são lembradas
Algumas, preocupantes!
Com a Covid a pairar
Não podermos desfrutar
Dos belos tempos recentes.

A liberdade tolhida
Vivência entristecida
Testemunham o momento
Realidade sinistra
Pois de perto já se avista
Um novo confinamento.

Já vai para onze meses
Que sentimos os reveses
Da maldita pandemia
Que perante toda a gente
Continuará presente
Privando-nos d'alegria.

Que com a vacinação
Ela sofra um abanão
Tão forte, até cair
E que nos deixe em paz
Com saúde, tanto faz
Que possamos resistir.

Carmindo Ramos

domingo, 10 de janeiro de 2021

São Bentinho...

Não vais

à igreja

nem queres

conversa

com padres

mas tens

em Deus

e rezas

todos os dias

ao Santo 

que te viu

nascer.


Maria José Meireles


sábado, 9 de janeiro de 2021

Inteira...

Sem sombra

de medo

renasces

numa tela de gelo 

onde agora cabes

inteira.


Maria José Meireles

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

VACINA, NOSSA SALVAÇÃO?

Ai se a vacina fosse a nossa salvação!
E se o vírus dela fugisse por medo!
Ao escrever-vos não faria tanto enredo
Pois teria já descansado o coração.

Mas não! Porque não há descanso a tomar
Pois esse tal ainda espreita a cada esquina
Ataca de soslaio menino e menina
Cuidados não são de modo a dispersar.

E os velhos, santo Deus! Como tanto ele os ama!
Constipa-os, atira-os para a cama
E deles se ri, se os brônquios lhes inflama.

Enquanto não for de todos a tal vacina
E mesmo depois em tempos que o tempo rima
Viveremos/morreremos conforme a sina.

Carmindo Ramos

Cordeiro...

Com todas 
as invejas
perdes
a noção
de todo o mal 
que já fizeste
e ainda 
queres
enganar 
quando te vestes
de cordeiro.

Maria José Meireles

domingo, 3 de janeiro de 2021

No teu poema

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano

Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas

Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

José Luís Tinoco

Nota: Não consegui ainda esclarecer se é "Existe tudo o mais que ainda escapa" ou "Existe tudo o mais que ainda me escapa"...

Silêncio...

O silêncio
já fez 
mossa
quando
não sabia
ler nas entrelinhas.


Maria José Meireles

sábado, 2 de janeiro de 2021

África...

As girafas

regressam agora

a África

para se cumprirem.

Maria José Meireles

Espelhos...



Dizes-me

o teu espelho.

Digo-te

o meu espelho.



Maria José Meireles

Vil...

Dizes

que adoras

o santo 

amor

da mãe

que é a morte

quando adoras

o divino

amor

da madrasta

que é a vida.


Maria José Meireles

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Confiança...

Agora

que já não me dizes

respeito

confio te

a quem de direito.


Maria José Meireles

Diabo...

Era um Deus

tamanho

que foi preciso

acender um Diabo

para o controlar.


Maria José Meireles

Fogo divino...

Deus

existe

nesta fogueira

que dança

incansavelmente

para regalo

dos meus olhos.


Maria José Meireles

ANO VELHO

Ano Velho, acabaste
Saudades não deixaste
Só tristeza e dor imensa
Foste tenebroso e fero
Patenteaste o medo
Quão vil a tua detença.

Vai para o inferno ardente
Que o Novo se apresente
Em tudo muito melhor
E acabe com a desgraça
Ou outro mal que embaraça
Traga SAÚDE E AMOR.

Que toda a população
Aceda à vacinação
Para ficar protegida
A nível de todo o mundo
Num sentimento profundo:
Ver a Covid vencida.

Carmindo Ramos