quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

domingo, 27 de janeiro de 2019

A morte é um dia que vale a pena viver | Ana Claudia Quintana Arantes | TEDxFMUSP

Com todos
os sonhos
seguimos
agora
em silêncio.

Maria José Meireles

Tragédia em Málaga/Espanha

Pais um tanto distraídos
Que foram surpreendidos
Num terrífico momento.
Na nossa vizinha Espanha
Uma tragédia tamanha
Aquele acontecimento.

Descuido, foi o rastilho
Para a perda de seu filho
Que brincava alegremente.
Num instante, o alvoroço
Menino caiu num poço
A notícia... abruptamente.

Com dois aninhos de idade
Tombou na profundidade
Dum furo longo e estreito.
Foram tomadas medidas
Por pessoas entendidas
Para o salvar a preceito.

Escavações paralelas
Com cuidados, com cautelas
Foram logo iniciadas
Por mineiro diligentes
Ao esforço indiferentes
Resistências encontradas.

Subsolo mui rochoso
Tornou-se dificultoso
No resgate da criança.
Para chegar até ela
Não se abria a janela
Para lhe dar esperança.

Só ao fim de doze dias
Com imensas arrelias
O menino encontraram.
Setenta metros de fundo
Já sem vida, neste mundo
A sua morte choraram.

Carmindo Ramos

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

domingo, 20 de janeiro de 2019

Levo-te

Levo-te pela mão
Levas-me pela mão
Um casal desce a rua
Céu baço sem estrelas
Muita luz do lampião.
A subir a rua
Passa uma sozinha
Passa uma com um cão
Eles descem, elas sobem
Esta rua solidão.
Qual o destino nosso?
Não o sabemos não
Nem tu, nem eu.
Levas-me pela mão.

Alf - jul. / 2017

Em Cerveira

Em Cerveira passa um rio:
O rio que passa em Cerveira.

Em Cerveira
Esperava tempestades
Afinal encontrei
Plácidas águas e fraternidade

Depois vós
Em plácidas águas ficastes
Em Cerveira

Nós rumámos rio abaixo
Atracámos, almoçámos

Depois nós
Navegámos
Uns para o centro
Outros para o sul

Enquanto vós
Nas plácidas águas
De Cerveira
Faláveis do futuro, presente
Em vossas cabeças

Agora sinto falta
Sinto saudades
Das não ouvidas
Vossas conversas
Em plácidas águas
De Cerveira

Alf. - 26 / mar. / 2017

História da Princesa Triste

Era uma vez uma Princesa que estava triste.
Domava dragões com uma festa no focinho ou com o olhar e, às vezes,
mais aborrecida, dizia:
Não sejas assim…
E o dragão deixava de ser assim.
Mas estava triste e pensava:
Não crio nada, estou em pousio.
Na verdade, a Princesa há muito que não desenhava palavras, não escrevia cores
– pois era assim que trabalhava, a Princesa.

Lembrei-me de um texto antigo.

Fosse Rei
E terias ouro
Incenso mirra

Fosse pastor
E terias
Ovelhas
Cabritos

Terás
Neste dia
Palavras.
Sou apenas
Lavrador
De sonhos.

Pensei para comigo: em vez de ser lavrador, vou ser roubador.
Roubador de sonhos.

Fui aos sonhos da Z. e roubei estrelas
Fui ao sonho das abelhas e roubei geleia real
Fui aos sonhos da C. e roubei chocolates.

Pus tudo num saquinho
Que não era de linho.

Caminhei devagar até chegar ao seu castelo,
entrei no salão da Princesa Triste e falei assim:
A natureza também entra em pousio
Precisa descansar
Depois reverdece e dá frutos
Ela sabe esperar.
Amanhã ou depois
Não há pressa
Vais sonhar e criar.

Depois, depus a seus pés o saquinho
Que não era de linho.

Disse-lhe então:
Sou um roubador de sonhos
Estes não são meus, não
Mas teus serão.
Sou apenas o portador que roubou
E muito caminhou
para te ver sorrir.

E a Princesa Triste, pegou nos sonhos e sorriu.

Alf. - 22 / julho / 2018

Preparação Náutica

Disse o Príncipe, sonhando horizontes azuis e verdes ilhas desconhecidas:
“Aparelhai uma caravela. Tereis a possibilidade de vogar a favor do vento ou à bolina.”
“Ide por esses mares revoltos e encontrai novos rumos, novas terras.”
“O nosso reino está pobre e despovoado. Procurai patrícios perdidos, convertei gentios à nossa fé, trazei riquezas poéticas - que muita falta nos fazem.”
“Os últimos que enviei, perderam parte da marinhagem e o que trouxeram não enriqueceu o meu reino.”
Foi criado um grupo de Doutos:
- que mostrengos evitar?
- que mapas consultar e melhorar?
- navegar junto à costa ou mares ignotos desbravar?
- que marinhagem escolher?
- que capitão, que mestre, que piloto designar?
E foram designados os mais capazes para uma gesta de tal dimensão!
Da marinhagem não se tratou por serem mais as marés que os marinheiros.
Está documentado:
- mapas antigos com rotas a melhorar;
- um estudo oceanográfico com o que de mais recente se conhece, a explorar;
- criação de feitorias por essas costas e ilhas para intercâmbio de artes e poesias;
- procurar patrícios perdidos nas sete partidas do mundo;
- converter gentios à fé da arte poética;
- divulgar ao mundo todas estas descobertas e navegações.
- muitas outras coisas foram propostas, que eu, mero escriba, não entendo e me abstenho de mencionar, até porque em todas as preparações de navegação há projectos a ocultar.
Tudo isto foi apresentado ao Príncipe.
Ficou contente, mas disse:
“Há que ir com cuidado, com tanta navegação, não vos falte a água ou os biscoitos.”
“Aportai sempre que necessário, fazei aguada, carregai frescos e parti para novas terras a desbravar”
E por assim ter acontecido, o venho atestar e, como escrivão que sou, o assino.

Alf (o tal) - mar./2017

Cercados de figuras

Cercados de figuras
Passados do passado
O trio presente
Reabre o futuro.

L aponta: “Este é o caminho”.
R. observa e vê
Em florestas trilhos a abrir
Em montanhas pontes a criar
Em planícies searas a semear.
M., força da natureza,
Transporta alegria
Tal como na fotografia.

Eis a ocasião da ilusão criada
A transformar
Em realidade futura.
Iludamo-nos todos
Com o rumo inventado.
Afinal… com alegria
Somos amigos.

Alf. - 23 / mar. /2017

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

DO QUE EU GOSTO

Gosto de flores e pessoas verdadeiras.
Gosto do ar puro, da sede dos teus lábios,
da água que em bátegas inteiras
cai, em flocos de neve, brancos, pálidos.
Gosto do sabor acre das ameixas verdes,
do mel de rosmaninho, filtrado da colmeia;
das ilhas de musgo que cobrem as paredes,
do uivar do lobo quando há lua cheia
Gosto do jasmim plantado no canteiro
por baixo da janela do meu quarto,
do sibilar do vento na palha de centeio
e daquela réstea de luz que vem do alto,
que brilha nos teus olhos cor do céu,
que traz de novo meu peito apertadinho
e até a névoa que cobre a lua como um véu
deixando livre o amor no meu caminho...
Gosto de flores e pessoas verdadeiras.
E não encontro as pessoas...

PAULA AMARO

Crónica de um “Invento”

Crónica dos acontecimentos acontecidos nos salões da nobre Casa da Sublime Senhora Dona Margarida, em determinado sábado que foi no dia 3 de março do ano de 2018.

É esta Crónica dedicada à mui Admirável, Excelsa e Fantástica Senhora Dona Margarida, protectora de todas as Artes e Ofícios afins a elas ligados.
Protectora da prosa e da poesia,
Do teatro e do cinema,
Dos livros lidos e dos livros a ler.
[“Que raiva! Ninguém me falou deste livro! Tão giro!”]

Vieram de longe alguns
De perto vieram outros

Uns
Vieram sós
Outros
Em grupos

A pé
De burrico ou a cavalo
De caleche ou em diligências
Transportes escolhidos
Conforme as posses
Ou as conveniências.

Rios
Foram atravessados a vau
Montanhas
Subidas e descidas a custo
Praias palmilhadas
Varridas de ventos e sargaços.

Sofreram frios, chuvas, ventanias e cansaços.

Alguns
Perderam-se, desistiram, voltaram a suas casas
Outros
Perdidos, pediram ajuda, chegaram.

Foram chegando
Foram chegando e entrando
Nos vastos salões
Da nobre casa

[“Vim de longe
De muito longe
O que andei para aqui chegar
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos para nos dar”]

Todos sorriam
Se cumprimentavam
E havia conversas cruzadas.
Por fim o silêncio.

A Úsnea
Começou a rebentar
Num ramo de árvore
Cresceu e foi a floresta.
Perdidos na floresta
Os presentes, calados
Viram a humanidade formar-se,
A humanizar-se
Ao longo dos tempos.
As memórias de um
Transformaram-se
Na memória de todos
Na memória de cada um.

E o silêncio final.

[Afastei-me
Fui olhar as árvores e a chuva
Sentir o vento.
Fiquei paralisado
Ressoavam as palavras
Transformadas em sentimentos.
Aproximei-me
E olhava a multidão
Falando, em movimento
Fiquei paralisado longo tempo
Recuperei, lentamente]

Repentinamente
A mesa encheu-se
De comeres e beberes
Tantos e tantos
Que não havia espaço

[“Com o que temos para nos dar”]

A festa
Iniciada com a chegada de uns e outros
Continuada com o poema lido
Explodia agora:
Em conversas soltas,
Surgiam textos
Eram contadas aventuras
Em conversas soltas.

[“Com o que temos para nos dar”]

Nunca se viu tal unidade
Nas diferenças pessoais.

E o tempo estava parado.

Repentinamente
O tempo alargou-se,
Sem que se desse por isso,
Já eram duas e tal.

Alf. - Mar. / 2018

Tenho

tenho
uma saudade imensa
não sei de quê

olho o céu muito azul
neste dia de inverno
um pouco frio
e sinto saudade

não tenho paciência
para cartas formais
contas bancárias
tratar de ficheiros
ordenar papéis
negociar

quero criar
imaginar
escrever e desenhar
mas o quê?

tenho
uma saudade imensa
de criação

Alf. - Jan. / 2015

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Peixe

Percorri
Dunas moventes
Em deserto ardente.
Procurava
Para ti um presente
E continuava ausente.

Voei
Por nuvens rosadas
Num dia e no outro
Eram escuras carregadas.
Procurava
Para ti um presente
E continuava ausente.

Mergulhei
No mar azul
Num dia de céu azul.
Procurava
Para ti um presente
E continuava ausente.

Falei
Com a Fada dos Mares
Dos corais anémonas
Peixes reluzentes.
Procurava
Para ti um presente
Que continuava ausente.

A Fada sorriu
E apontou sorridente
“Está ali o teu presente”
Um peixe rosado
E cor de salmão
Pousou na minha mão.

Enfim, encontrei
Para ti um presente
Tanto tempo ausente.

Alf. - Dez. / 2018

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Sentado na areia
Na areia seca
A areia escorre
Por entre os dedos.

Lá longe
A areia molhada
Sonha castelos
Decora-os com algas
Conchas e seixos.

Não saí da areia seca
Sonhei, não construí.

Mais longe
O azul do mar
Promessa de terras
Novos horizontes
Sol e vento.

Partiram as caravelas
Não fui, não naveguei.
Na areia seca fiquei
Não vi, não senti.

Longe, mais distantes,
O mar a vazar
A areia molhada a secar.

A areia seca escorre
O sonho escorre
Por entre os dedos.

Alf. - Novembro, 2016

PAU-DE-ARARA | Zélia Barbosa

domingo, 13 de janeiro de 2019

ROMARIA - ELIS REGINA

AJOELHAREI EM TERRA E DOBRAREI A FRONTE

Há dias em que a pobreza me invade.
Não tenho e não toco sons.
Busco e rebusco, choro a cidade
Desde os mais baixos aos altos tons.
Penso, com amargura ser da idade
E que só os mais novos têm dons.

Explode o coração pleno de revolta,
Vivo o tumulto das guerras na rua
Fecho a porta sem à chave dar a volta,
O corpo visto, mas a alma tenho nua.
Sinto nas entranhas diabos à solta,
Só há negrume, apagou-se o sol e a lua.

Por desgraça, que não a há maior,
Não tenho moeda para a Barca de Caronte.
Ficarei em terra deste lado, ou pior,
Espiarei em vida todo o mal que mal vos conte
Raiados os olhos de sangue nesta dor,
Ajoelharei em terra e dobrarei a fronte.

Carmindo Ramos
Não procuro
A perfeição
Nos deuses
Perfeitos

Procuro
A perfeição
Nos humanos
Imperfeitos
Que procuram
A perfeição
Nos seus actos
Imperfeitos

A imperfeição
Da procura
Da perfeição
Dos humanos
Em seus actos
Imperfeitos
É para mim
Pura poesia

Alf. – mai / 2017

(a propósito de uma tartaruga artesanal com pequenos defeitos de pintura)

Os Caretos












Somos
Eternos caminhantes
De costumes
Bem distantes.

Andámos
Por longes terras
Salsas, Podence,
Lazarim.

Nós
Pobres Caretos
Fizemos
Caminhos sem-fim…

Chegados a Barcelos
Viemos bater
A esta porta
Pois ouvimos dizer
Que havia sopa e torta.

Não há torta, não?
Vindos de Lazarim,
Deixem-nos entrar
Mesmo assim,
Contentamo-nos
Com uma pratada
De boa feijoada.

Alf. - 07 / Fev. / 2016

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

domingo, 6 de janeiro de 2019

Todo
o aparato
caiu por terra
numa única
gargalhada.
Vestiu
por dentro
o poema
e todos viram
a exuberância
do seu vasto mundo
interior.

Maria José Meireles

sábado, 5 de janeiro de 2019

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Presente...

Hoje
faltam-me palavras 
para te dizer 
a minha gratidão. 
Hoje 
quis escrever 
o mais belo poema 
para dizer 
que és a justiça,
a verdade 
e a beleza.

Maria José Meireles

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade , "Receita de Ano Novo". Editora Record. 2008.

ANO VELHO/ANO NOVO

Ano Velho a terminar
Ano Novo a chegar
Dentro d'horas, sem favor!
Que nos traga esperança
Na economia abastança
Paz, harmonia e amor.

Neste ciclo anual
Que hoje tem o seu final
A sociedade lutou
Por melhores condições de vida
Mas nem sempre conseguida
Porque a justiça minguou.

Os nossos trabalhadores
Nesta luta sofredores
Encetaram seu percurso
Por uma via legal
Num objetivo final
A greve, como recurso.

Que todos os responsáveis
Sejam lestos, sejam hábeis
A sanar todo o mal
Corrigindo a justiça
Cambaleante, enfermiça
Qu'inda habita em Portugal.

Um próspero Ano NovoPara todo o nosso Povo
Prós meus amigos, também
Pleno de felicidades
Lindas e boas vontades
Que o bom senso contém.

Carmindo Ramos