sábado, 19 de outubro de 2019

A poesia da matemática...

Há pontes difíceis de criar
e um "pica no chão"
vale mais do que trinta e um de aviário.
No conhecimento horizontal
diz-se tudo
enquanto que no conhecimento vertical
diz-se apenas o que se sabe.
O invariante é a matemática
que, sem objeto,
tanto serve para mentir
como serve para fazer poesia.
Algoritmos são lógica,
dados são álgebra,
construir um avião é preciso,
o tráfego aéreo continua descontrolado,
a criptografia é agora para todos,
a geração pós guerra revolucionou o mundo...
a ignorância persiste
e continuas à procura da poesia
que sabes ser o mais "sexy (desculpem)"
de tudo.

Maria José Meireles

domingo, 13 de outubro de 2019

Improviso para pedir esmola...

Almeida Júnior - A Mendiga




A despir-me nas palavras
descurei o guarda-roupa
e a nudez visitou-me
entre rasgões e remendos
não
não me sirvas mais
à mesa do desejo
o vinho
nem a antologia
veste-me apenas
como um sem-abrigo
e diz-me depois
antes não
que me queres assim.

Ademar

Arder nas brasas...

Quero
arder
nessas brasas
devagar
(e)ternamente.

Maria José Meireles

domingo, 6 de outubro de 2019

A fonte da minha aldeia

Inda pré-adolescente
Eu via que muita gente
À fonte ia buscar água
De cantarinho à cabeça
Transportavam água fresca
Sem qualquer tristeza ou mágoa.

Era a Fonte do Vale
No centro da povoação
Outra não havia igual
Naqueles tempos de então.

Aos domingos, à tardinha
Havia concentração
De quem para ali vinha
Nos dias quentes de verão.

Raparigas e rapazes
Encetavam namoricos
Eles, sempre mais audazes
Lançavam-lhe água aos salpicos.

E, com estas brincadeiras
Às vezes té dava certo
Conversas namoradeiras
E... casamento por perto.

Água da fonte, servia
Pra beber, pra cozinhar
Encanada, não havia
De cânt'ro a iam buscar.

Longínquos vão esses tempos
Que os mais velhos não esqueceram
Vivem-se hoje melhores momentos
Do que os que antecederam.

Carmindo Ramos