sábado, 25 de abril de 2015


Fui o mais submisso e persistente dos teus amantes
e o mais patético
Nenhum obstáculo me distraiu da lenta e dolorosa peregrinação
Quanto mais hermética e longínqua te oferecias
mais eu ousava o envolvimento
mais cúmplice ainda te aparecia
Uma a uma as tuas resistências foram desaprendendo
o sentido da proporcionalidade
Era inútil fugires-me
Sentiste que eu haveria de perseguir-te até ao infinito
e que nada nem ninguém perturbaria a minha vontade
de te consagrar como a última e a mais esplendorosa das
mulheres que amei
Começaste então a abrir as portas e as janelas da tua reserva
e consentiste que lentamente eu me fosse aproximando
Eis-me agora aqui diante dos teus muros antes impenetráveis
cansado talvez da longa e penosa viagem empreendida
mas sempre leve e ágil aos teus olhos
O amor não me pesa na alma nem no corpo
É a única certeza de mim que poderei oferecer-te

Ademar

publicado em "Descansando do Futuro (Reserva de Intimidade)", Asa, 2003

2 comentários:

  1. a música, a poesia acontecem em momentos como estes... coincidências...o muro...

    será que nasceu ou vai nascer algo ?

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  2. MJM,
    fantástico, ontem ouvi esta música.
    Coincidências?
    Muitas!

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